quinta-feira, 16 de julho de 2015

mote

sim, eu sei...
existe a dor da humanidade
a política cheia de sacanagem
e a polícia que abusa da autoridade

existe a falta de tato
e também a falta de abraço

existe a fome
e existe o cansaço

também vejo e percebo
mas meu peito insiste
em vestir outro norte

e naquela cena às margens da BR
enquanto todos mantêm o foco 
nos feridos, nas ambulâncias, nos bombeiros
no estampido que as horas alardeiam
meus olhos horizonteiam o gramado
onde dois cães, ainda filhotes
alheios a tudo
enternecem a tarde numa pequena algazarra

(Bianca Velloso)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

simbiose

(fotografia: Verônica Almeida Siqueira) 


e eu
que zombava tanto
da certeza
.
.
.
até que um dia
ela chegou
e me acariciou
:
a mão
o rosto
a boca
o beijo
.
.
.
ela chegou
.
e me tocou
.
e era tamanha delicadeza
que enfim acreditei
e deixei de duvidar
.
.
.
ela chegou
.
e me tocou
e era tamanha delicadeza
.
que me fez mais vida
mais mulher
mais eu
.
hoje a certeza mora em minha pele
.

(Bianca Velloso)

sábado, 11 de julho de 2015

dádiva

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

aqui
onde o dia
faz a curva
.
cintura
.
onde a alma
faz a calma
.
descompostura
.
onde a lua
faz-se nua
.
iluminura
.
onde o tempo
faz silêncio
.
procura
.
minha boca na tua
a rosa
:
delicadeza
que não cabe num poema
:
aqui
dentro do teu abraço

- Bianca Velloso -

luz

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

a luz castanha da vela
a mesma luz
que teu olhar revela
:
chama efusiva
que vibra
e embala
acalenta
esquenta
.
luz nas entrelinhas
.
delicada cadência
:
corpo
-
aderência
...
silêncio
...
será que é cedo
para dizer
eu te amo
.

- Bianca Velloso -

terça-feira, 7 de julho de 2015

presente

(fotografia: Verônica Almeida Siqueira)


na mão direita
a menina embrulha o barbante
e o aperta
ao encontro do peito
o lado esquerdo do peito
.
o barbante embrulhado
na mão da menina
é o barbante do embrulho do livro
sim, o livro,
o livro cuja história
ressignifica o presente
e o presente
é vida pulsando
:
na História
nos ventos
nos meios
.
manhãs, tardes e noites
.
nas marés
nas saias
nas sinas
.
semanas, meses e anos
.
nas pernas
nas veias
nos olhos
nos seios
na saliva
:
existência
reentrâncias
e urgências

(Bianca Velloso)

artesania

(fotografia: Verônica Almeida Siqueira)


montada no lume
das horas vadias
ela segue
:
o percurso
o compasso
a lida
.
.
.
percussão
persuasão
repercussão
.
banida
de toda vergonha
lambe versos
tece descomposturas
costura palavras
e disseca poemas

(Bianca Velloso)

domingo, 5 de julho de 2015

motivo

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)


porque és o riso
do meu riso
e as gotas da chuva
que trago escrita nas pupilas

esse jeito todo nosso
de rir de tudo e de nada
e de encher os olhos d'água

choro e riso sem motivo
locomotiva da vida

eu moro na linha do horizonte
que se projeta em teu sorriso

(Bianca Velloso)

imagem

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

tua imagem dança
rodopia
tua imagem fica
permanece
tua imagem brinca
:
luz e penumbra
tato, paladar, audição, olfato
.
perto, tão perto
.
procuro o foco
perco-me
percorro-te
.
emudeço
.
teu corpo
:
meu endereço

(Bianca Velloso)

enxurrada

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

cachoeira em ebulição
corredeira dentro do ventre
.
.
.
mulher das águas
navego lentamente
tuas densidades
.
deságua em mim teu cio
.

(Bianca Velloso)


assentamento

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

percorrer cada caminho
serras, vales e planaltos
.
ocupar a parte que me cabe
no mapa da tua mão

(Bianca Velloso)

anseio

.
tua imagem na minha palavra
:
tua palavra no meu contexto
:
teu contexto no meu gosto
:
teu gosto na minha boca
:
tua boca no meu seio
:
teu seio no meu beijo
:
teu beijo na minha pele
:
tua pele no meu cheiro
.
teu cheiro... teu cheiro... teu cheiro

prenúncio

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

lá fora o sol toca a face do dia
.
nu, o peito fechado
noite escura no dentro
.
o amor em silêncio
em suspenso
.
o amor descabido
incontido
vertendo águas, lágrimas
nunca mágoas
.
presença forte na ausência
circunstância, inconstância
:
querência
.
uma borboleta amarela flutua leve
a questão (im)posta no ar
:
será adeus ou até breve?

(Bianca Velloso)

destino

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

as horas brincam
em teus cabelos
.
noite que atravessa 
a vidraça
corpo nu
:
na cama, na varanda
na melodia
.
dia que extravasa
.
tempo de sermos nós
:
a sós
.
tempo de dizer sim
tempo de você em mim
:
sem fim

(Bianca Velloso)

Libertad Serena

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)


filha das águas
pés no chão
peito desarmado
.
transporta o vento
transborda o tempo
.
ilumina os dias
com uma pureza quase maliciosa
.
acende as noites
com um despudor delicado
.
faz poesia com imagens
inventa aromas com paisagens
.
brinca com fogo
brinca com sombras
brinca em meus sonhos
.
transcende olhares
evoca luares
.
aperta o passo
dança com acasos
.
meu mundo amanhece a teus pés

(Bianca Velloso)

festa

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

tamborilando
a chuva brinca
:
de fazer gota
ponta de arco-íris
conta de colar
cortina de pingo
ritmo e compasso
.
no meio do enquanto
no encanto
no quarto
no trato
no tato
no entre
vertente no ventre
.
as línguas brincam
:
de fazer riso
ponta de paraíso
para-raios
incandescências
intermitências e gozo
...
em silêncio
as flores fazem seresta

(Bianca Velloso)



madrugada

(fotografia: Veronica Almeida Siqueira)

dentro o vento
assobia
uma canção
um poema
um sorriso
esboço de paraíso
.
incólume
o amor dorme
nos braços da madrugada
.
fora o silêncio
chama, arde
e acende os olhos da amada

(Bianca Velloso)