O problema de ter dois blogs é
este: existem histórias que fazem parte da minha poesia cotidiana e ao mesmo
tempo retratam olhares... Na dúvida resolvi publicar nos dois. Esta história fala
de olhar, de olhar para a vida com outros olhos, que é o objetivo de “Histórias
e Olhares”. E também vem carregada do meu olhar de mãe. Mas acima de tudo é um
olhar de orgulho, carinho e admiração por uma amiga guerreira.
Juro que não pensei que ela
tivesse toda essa força. Chorei quando recebi a notícia de que ela teria que
enfrentar um linfoma. Meu irmão já enfrentou esta luta (a história dele pode
ser lida aqui) e sei que é uma barra pesadíssima. Por mais que o linfoma seja
um dos tumores com melhor prognóstico, é um câncer e há que se enfrentar a
quimioterapia.
Uma vez fui visitá-la no início
do tratamento e conversamos sobre a inevitável queda de cabelo. Contou-me que
não tinha vontade de usar peruca, que iria assumir a careca. Acabou aderindo às
perucas para evitar o olhar de pena que a maioria das pessoas dirige para quem
está enfrentando uma quimioterapia. O olhar de pena sempre é arrasador e o que
mais se precisa nessas horas é coragem e esperança. Foi duro vê-la careca pela
primeira vez, no meu consultório optométrico, só nós duas, mas acho que
consegui segurar a onda.
A pior parte do tratamento já
terminou. Por mais dois anos terá que tomar um medicamento de controle, mas não
tem mais quimioterapia. O cabelo dela já começou a crescer, ainda está bem
curtinho, mas já está cheio. Agora ela não usa mais peruca. E está linda assim!
Ontem fomos almoçar na casa dela,
Helena – minha filha – e eu. Em determinado momento foram as duas até o quarto,
fiquei na sala. De repente aparecem rindo: Helena estava com uma das perucas
compradas especialmente para enfrentar o período da quimioterapia. Aquilo virou
uma gostosa brincadeira. Todos experimentamos as perucas – até o pai da minha
amiga entrou na onda. Mais uma vez tive que conter o choro. Mas fiz questão de
fotografar a cena. Helena sabe que minha amiga esteve doente, não sabe e não
entende o que de fato aconteceu. Mas a foto foi feita e, quando Helena crescer
e conseguir entender, terei o maior orgulho de mostrar a ela como alguém pode
transformar em brinquedo um objeto muito significativo de uma parte bastante
sofrida da própria história!
Muito obrigada, minha linda
amiga, por me proporcionar uma cena de tamanha beleza! Nunca vou esquecê-la!
Muito obrigada por me dar oportunidade de contar essa história de superação
para minha filhota! Muito obrigada por me ensinar a olhar para aquela peruca
como um troféu de uma batalha que venceste!
- Bianca Velloso -
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