- Mãe, quando tu morreres, queres ser cremada ou enterrada?
Sempre pensei que depois de morta não faria diferença ser cremada ou enterrada, mas quando a pergunta veio dela percebi que nunca havia parado pra pensar de verdade sobre o assunto...
- Tanto faz... Depois de morta não faz diferença nenhuma... - respondi e me arrependi na mesma hora!
Ficamos nos olhando por um momento. Não sei o que ela pensava, mas eu tentava imaginar o que se passava naquela cabecinha, sem coragem de perguntar nada.
- Pensando melhor, acho que quero ser cremada, filha...
- Por quê, mãe?
- Para que não te sintas na obrigação de ficar visitando um corpo que se decompõe no cemitério...
- Mas eu já estou acostumada a ir ao cemitério! Minha Vó Vivi tá enterrada lá...
- Ah, sei lá, filha... Mas eu não acho legal, não acho que cemitério tenha uma energia boa... Se a gente fosse só pra baixo da terra tudo bem, virava adubo pra fazer crescer as plantinhas... Mas fica lá num espaço que... Acho que é melhor ser cremada mesmo... Depois tu jogas minhas cinzas de um lugar bem alto e bem bonito para que eu possa voar e voltar pra natureza!
Pensei na mercantilização da morte e da dor... Seria bom ter nascido índia... Ou em qualquer outra
cultura em que a dor pode ser vivida até o fim, sem que ninguém faça
dela um negócio lucrativo... Neste "mundo civilizado" morrer é
caríssimo! Enterrando ou cremando, não importa, é tudo muito caro... Nos roubaram até o direito de morrer! Que triste! Que doído! Mas não era sobre isso nossa conversa... Docemente ela concluiu:
- Tá bom, mãe, eu vou fazer tua cremação num dia em que o céu esteja todo cor-de-rosa, bem lindo!
Acho que ela entendeu... Muito mais do que eu...
- Bianca Velloso -
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