domingo, 25 de agosto de 2013

Iemanjá juntou e São Francisco abençoou



Às margens do Rio São Francisco, o Homem Menino me explicou: "dos quatro elementos, o único que embala é a água". Tirei os sapatos para sentir o rio... Ele agachou-se ao meu lado, segurou meu pé com uma das mãos... Fez questão de intermediar o meu contato com o rio:

- Eu te batizo no Rio São Francisco! 

Entramos no rio, mergulhamos na cachoeira...

- Vamos entrar juntos? Vai lá, um dois, três e já!

Emocionada, sem saber se ria ou se chorava, espichei os "zóio" sem vergonha pra ele:

- Tu "tá" ferrado: Iemanjá nos juntou lá na praia do Campeche e agora São Francisco abençoou... Vais ter que me aguentar pelo resto da vida!

Dias depois resolvemos esticar a viagem até Ouro Preto... Nos nossos planos seria uma passagem rápida pela cidade, uma volta de carro, uma parada para tomar café e retornar depressa para dormir em Belo Horizonte.  A medida que nos aproximávamos da cidade histórica a neblina começava a aparecer e a ficar cada vez mais espessa... Passava um pouco das quatro da tarde... Por segurança decidimos pernoitar em Ouro Preto e só seguir na manhã seguinte: estrada de serra que a gente desconhece (com neblina ainda por cima) é muito complicado...

Encontramos uma pousada e saímos a caminhar, ainda chateados pela mudança de planos...

- Já que temos que ficar por aqui mesmo, vamos passear... Com neblina não deve dar pra ver muita coisa, mas vamos lá...

Com cinco passos de caminhada já percebemos (mesmo sob o véu da neblina) que a cidade era linda: as ruas de pedra, as igrejas, as construções antigas... Mais três passos e já nem lembrávamos dos planos de dormir na capital mineira. 

Sem mapa da cidade, sem referência, sem indicação, chegamos até uma galeria de arte. Qual a nossa surpresa, quem encontramos por lá? Uma imagem de São Francisco, esculpida em Pedra Sabão, da altura do Homem Menino!

Impressionante: ao sairmos da galeria o céu estava limpo. A neblina havia dissipado... De repente...

Emocionados, percebemos que não foi por acaso que paramos naquela cidade... Foi São Francisco que olhou por nós, confirmando sua bênção!

Na praça Tiradentes encontramos o Geraldo, um contador aposentado que nos deu dicas valiosas sobre como não sermos tão explorados pelo comércio da cidade... Em seguida outro Geraldo, artesão, que nos presenteou com pedaços de pedra sabão e nos ajudou a encontrar a saída da cidade na manhã seguinte... E uns poetas errantes que deixaram conosco um pouquinho de poesia... E um par de tênis de criança que o Homem Menino recolheu do lixo para presentear um menininho lindo da Rua Coruja Dourada... 

Bebemos uma cerveja, comemos pizza cortada em pedacinhos direto da fôrma... Paramos para falar com um artista de rua que recolhia o material de trabalho, encerrando o expediente... O Homem Menino elogiou o trabalho dele, disse que lembrava muito o trabalho de um artista carioca chamado Eduardo Marinho... Seguimos conversando sobre o Rio de Janeiro, sobre o trabalho do Eduardo... Eu nunca havia ouvido falar dele, mas gostei muito de saber da sua existência (gente que faz diferença no pensar da gente)... O Homem Menino me ensina tanta coisa linda... Na última ladeira, antes de chegarmos à pousada, sentamos para respirar e tomar fôlego... De uma casa ali perto vinha um som muito alto... Parecia uma entrevista de rádio... E era Eduardo Marinho quem falava!

Não sei se foi Ouro Preto, se foi Iemanjá, se foi São Francisco ou se foi simplesmente a parceria... Essa parceria que transforma tudo em POESIA! Este companheiro lindo, meu sonho e minha realidade!

- Bianca Velloso -

Nenhum comentário:

Postar um comentário