sábado, 2 de junho de 2018



toda despedida é início. início de um outro tipo de relação. relação acrobata, permeada de saudades. e toda crença nasce de uma espécie de cegueira. a gente só acredita naquilo que não pode ver. aquilo que a gente vê a gente aceita. a gente acredita mesmo é naquilo que a gente sente.

caminho à beira do mar. a sentir a água. a consentir a água. a perceber os desenhos que ela faz. creio. creio porque minha cegueira me permite crer. o mar divide os continentes. o mar é o limite entre o lado de cá e o lado de lá. 

digo-te agora tantas coisas. talvez fosse do teu querer ouvir meus devaneios. talvez não. talvez tudo isso só exista no agora, nesse espaço da ausência, como memória que se agarra à pele com receio de não ser. com receio de esquecer o tempo e todos os seus fractais.

talvez eu tivesse deitado no teu colo. talvez a gente parasse para olhar sem pressa a lagoa no arrebol.  talvez eu tivesse chorado no teu abraço. talvez fosses a força da qual precisei. talvez eu fosse o teu porto. o teu silêncio e o teu sorriso. talvez fosse o teu som e o teu choro. talvez escutássemos juntos sambas antigos que tanto me comovem. talvez me contasses teus medos e tuas vontades. teus sonhos.  talvez gostasses da minha poesia, da minha oração. talvez não.

talvez a vida seja simplesmente isso. um talvez. um imenso talvez a narrar nossa (in)capacidade de lidar com a transitoriedade. e se a poesia é efêmera é o amor que nos continua.

(Bianca Velloso)


Nenhum comentário:

Postar um comentário