toda despedida é início. início de um outro tipo de relação. relação acrobata, permeada de saudades. e toda crença nasce de uma espécie de cegueira. a gente só acredita naquilo que não pode ver. aquilo que a gente vê a gente aceita. a gente acredita mesmo é naquilo que a gente sente.
caminho à beira do mar. a sentir a água. a consentir a água. a perceber os desenhos que ela faz. creio. creio porque minha cegueira me permite crer. o mar divide os continentes. o mar é o limite entre o lado de cá e o lado de lá.
digo-te agora tantas coisas. talvez fosse do teu querer ouvir meus devaneios. talvez não. talvez tudo isso só exista no agora, nesse espaço da ausência, como memória que se agarra à pele com receio de não ser. com receio de esquecer o tempo e todos os seus fractais.
talvez eu tivesse deitado no teu colo. talvez a gente parasse para olhar sem pressa a lagoa no arrebol. talvez eu tivesse chorado no teu abraço. talvez fosses a força da qual precisei. talvez eu fosse o teu porto. o teu silêncio e o teu sorriso. talvez fosse o teu som e o teu choro. talvez escutássemos juntos sambas antigos que tanto me comovem. talvez me contasses teus medos e tuas vontades. teus sonhos. talvez gostasses da minha poesia, da minha oração. talvez não.
talvez a vida seja simplesmente isso. um talvez. um imenso talvez a narrar nossa (in)capacidade de lidar com a transitoriedade. e se a poesia é efêmera é o amor que nos continua.
talvez a vida seja simplesmente isso. um talvez. um imenso talvez a narrar nossa (in)capacidade de lidar com a transitoriedade. e se a poesia é efêmera é o amor que nos continua.
(Bianca Velloso)
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