domingo, 12 de agosto de 2012

Literatura é terapia

Dentro de um barco sem rumo, no meio de um descaminho, eis que chega Eduardo Galeano com este presente:

A Casa

1984 tinha sido um ano de merda. Antes do infarto, tinham me operado as costas; e Helena tinha perdido um bebê no meio do caminho. Quando Helena perdeu o bebê, a roseira da varanda secou. As outras plantas também morreram, todas, uma atrás da outra, apesar de serem regadas a cada dia.

A casa parecia maldita. E no entanto, Nani e Alfredo Ahuerma tinham passado por lá alguns dias, e ao ir embora tinham escrito no espelho:

'Nesta casa fomos felizes.'

E também nós tínhamos encontrado alegria naquela casa de repente amaldiçoada pelos ventos ruins, e a alegria tinha sabido ser mais poderosa que a dúvida e melhor que a memória, e por isso mesmo aquela casa entristecida, aquela casa barata e feia, num bairro barato e feio, era sagrada.

 E assim, à deriva, o dia transcorreu repleto de pequenas alegrias.

- Bianca Velloso - 

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