sexta-feira, 24 de novembro de 2023




Esta fotografia me traz sentimentos ambíguos. Me explico: sempre gostei muito de ver essas duas juntas, a mãe, que nunca foi muito cachorreira, tinha uma relação diferente com a  Dike. A mãe nunca gostou de bicho dentro de casa, mas toda vez que ia no pátio conversava com a Dike e com o passar do tempo (depois da pandemia) passou até a fazer carinho. E falava pra gente: "ela é uma cachorra tão querida, tão boazinha, tão obediente. Na pandemia a Dike foi a companhia mais presente pra mãe. Ela andava atrás da mãe o tempo todo e a mãe sempre sabia o que ela queria: "ela quer comida", "ela quer água", "ela quer a cama dela".  Essa é o sentimento bom que essa fotografia me traz.

O sentimento doloroso é porque aparece ali do lado, no cantinho, um cinzeiro... A mãe era fumante... Não fumava dentro de casa, está aí na varanda. Tantas vezes a gente pediu pra ela parar de fumar, algumas vezes acho que ela tentou, algumas vezes fumou escondida e depois desistiu, disse que nunca ia parar de fumar. Ela não fumava muito... Mas fumava... No fim do ano passado ela resolveu pedir para uma amiga médica para fazer uma tomografia de pulmão... E aí descobriu o câncer... Estávamos todos bem esperançosos porque o tumor era pequeno e bem localizado, os planos eram fazer a cirurgia para retirar uma parte pequena do pulmão e depois a quimioterapia. Segundo o médico, era uma cirurgia de grande porte, mas de baixo risco. Mas as coisas não saíram como no script... As coisas se complicaram, uma complicação depois da outra... E aí, depois da alta, num retorno no cirurgião, ouvi ela dizer para o médico o que eu sempre quis escutar: "eu não vou fumar mais". Em seguida começou a quimioterapia num organismo que ainda estava muito frágil e ela não resistiu...

Se eu já não gostava de cigarro antes, agora gosto menos ainda... O cigarro encurtou a vida da minha mãe. 

E a Dike? Ainda hoje parece que ela procura pela minha mãe no quintal de casa...


 

 

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