segunda-feira, 28 de julho de 2014

binóculo


vive a vida
a tua vida
com os pés no chão
descalços
de preferência
...
desarma a alma
despe o corpo
sem violentá-lo
deixa que ele
se expresse
...

experimenta
o toque, as carícias
o abraço
o afago e o afeto
sem medo ou tabu
...
com o peito
em desatino
desalinha ódios
desafia amores
...
aceita os sussurros
ao pé do ouvido
sussurra também
:
e fecha os olhos para enxergar

- Bianca Velloso -

sábado, 26 de julho de 2014

Contr(a)ção



sem ação
nem reação
sem rumo
sem ida
sem volta
sem como
sem onde
sem por que
...
das entranhas do poeta
um poema é parido no infinito

- Bianca Velloso -




pausa de compasso (2)



como a música
que se compõe
no vazio
nos silêncios de ti
sigo orquestrando
o amor que contigo
descobri que havia
dentro em mim

- Bianca Velloso -

quinta-feira, 24 de julho de 2014

cabimento






o que cabe na mim
?
o que cabe na ti
?
só o que cabe no pensamento
?
ou também
- e principalmente -
o que não cabe na cabeça
?
algumas coisas não existem
até que a gente se aproprie delas
:
a contemporaneidade
a quem é de direito
...
porque cabes no meu tempo
porque caibo no teu tempo
...
e o tempo cabe no colo


- Bianca Velloso -

sobre a vida



às brisas nas pressas
às brasas nas pragas
às soltas nas praças
às avessas nas preces
a poesia vive livre
:
o poeta sente/observa
e depois descreve
no papel a poesia morre
vira poema
...
nos saraus ela renasce

- Bianca Velloso -

Mãe de primeira viagem



sofre o que precisa ser sofrido
chora o que precisa ser chorado
pés descalços pisa neste chão
é assim mesmo
depois piora
alguns dirão
não acredita
depois melhora
isso também passa
...
essa culpa
essa maldita culpa
inconfessável
é a culpa de todas nós
só ela é que não passa
ela te acompanhará
pelo resto dos teus dias
não dá para lutar contra
mas um dia
a gente aprende a conviver
e consegue até domá-la

- Bianca Velloso -

quinta-feira, 3 de julho de 2014

poesia que te quero bruta



Não! Não quero a poesia imaculada
dessas que vivem estanques
nas estantes cheias de teias de aranha
cheirando a teoria científica e naftalina
...
Quero sim a poesia bem puta
dessas que passam de boca em boca
escorrem no suor das gentes
e se esgueiram no dia a dia do subúrbio
...
Quero a poesia bem viva e ativa
dessas que pulsam no sangue do povo
eriçando todos os pelos do corpo
e rodopiando no meio dos saraus
...
Sim, vou usar a teoria
vou aprendê-la, apreendê-la
dominá-la e depois
lambuzá-la com o gozo da periferia

- Bianca Velloso -