terça-feira, 27 de julho de 2010

Entendimento

Mesmo com pouco dinheiro para que Helena pudesse aproveitar um pouquinho as férias de inverno fiz questão de levá-la para se divertir na piscina de bolinhas, com duas amiguinhas e com direito a um lanche daqueles que não se pode comer todos os dias: batatinha frita.

Brincou um pouco na piscina e pediu para ir noutro brinquedo. Chamei-a num canto e expliquei:

- Filhota, a mamãe tá com pouco dinheiro, hoje não dá. Se tu fores, tuas amiguinhas vão querer ir também e e não dá para pagar pra todo mundo.

Ficou chateada, com um bico enorme, mas fez sinal afirmativo com a cabeça.

- Tu entendes isso?

Ainda com bico fez outro sinal afirmativo. Enchi a criaturinha de beijos:

- Que bom, meu amor! A mamãe fica feliz que tu tenhas entendido! Te amo tanto! Tu és a melhor filha do mundo, viu?


domingo, 25 de julho de 2010

Saramago



Estava sentada na varanda, lendo uma matéria sobre o grande José Saramago, Helena aproximou-se e mostrei a foto a ela:

- Olha filha, vem cá! Olha que foto bonita! É um velhinho bonito, não é?

- É! Quem é ele, mãe?

- É o Saramago, um grande escritor, que escreveu livros lindos. Mamãe gosta muito dele, tem livros escritos por ele, a Vovó também tem, o teu Papai também tem e quando tu cresceres, também vais ler e vais gostar.

Helena olhou a foto novamente, passou a mãozinha na imagem e disse:

- "Cando" a gente tiver um nenezinho, a gente pode colocar o nome dele de Saramago!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ora bolas!

Helena adora o pátio. Hoje está chovendo aqui. Sorrateiramente saiu da sala e foi brincar com um rodo na área coberta. Mal o sol ameaçou aparecer e ela já estava embaixo da chuva com o braço esticado segurando um balde.
- Helena! Sai da chuva filha!
- Eu só queria pegar uns pingos!
- Sai da chuva, guria, tu estás com tosse, resfriada! Eu vou ter um "tiricotico"!
- Mas eu só queria pegar uns pingos! Coloca uma mão na cintura, solta o balde, dá uma pausa, vira a outra mãozinha, esticada e fala: Ora Bolas!
Aí não tem mãe que resista, né? Dei uma gargalhada e enchi a pequena de beijos, pegando-a no colo e trazendo para dentro de casa.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Banhos, Preconceitos e Liberdade

Aproveitando que a irmã Mirella está morando na Holanda com o marido Jorge, o pai da Helena viajou para conhecer a Europa. Há 13 dias minha filhota não vê o pai. Hoje, durante o banho, bateu saudade e ela perguntou:
- O meu pai tá tomando banho lá na Holanda, mãe?
- Tá filha.
- Por que menino não pode tomar banho junto?
- Como assim, filha? Não entendi... Menino não pode tomar banho junto?!
- É, mãe. Por que o meu pai não pode tomar banho com o Jorge?
- Ah, filha! Poder até que pode, mas não é muito legal... - respondi meio sem graça.
Não sei quem foi que disse a ela que meninos não podem tomar banho juntos... Como é difícil dar às crianças uma educação livre de preconceitos e equilibrar isso com as convenções sociais que me sinto obrigada a ensinar! Como é complicado falar de certos assuntos, como a homessexualidade, por exemplo, com uma criança de dois anos de idade! Pode até ser simples, mas nosso comportamento acaba por trair a própria crença. Disseminamos o preconceito que criticamos. Afinal é bem difícil contradizer na prática (no discurso é bem fácil) o cinismo e a hipocrisia dessa educação cristã tão arraigada em nossa formação há gerações.
Tenho me esforçado e vou encontrar o caminho. Quero minha filha livre, libertária e principalmente feliz!

Capim

Observando a careca do nosso Val, Helena pergunta:

- Por que tu não tens capim?

- Capim? Como assim capim?

- Capim assim como eu e a mamãe. - E mostra os cabelos.

domingo, 18 de julho de 2010

Almoço de sábado

Esperando a vez na balança do buffet, ela pergunta:

- Tu "pedô", mãe?

- Não, filha.

- E o moço "pedô"? - Referindo-se à pessoa que estava na nossa frente.

- Filha, não é "pedô", é pesou, não é "pedar", é pesar.

No meio do almoço, ela me avisa:

- Mãe, quero fazer cocô.

- Tá bom, meu amor, vai indo lá no banheiro que a mãe já vai te limpar.

Na porta, do banheiro, a uns 8 metros de distância, ela para e pergunta bem alto:

- O cocô não vai ficar lá, mãe?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Fazendo amigos?

Passamos a manhã toda no cartório. Sem ter muito o que fazer, ela encantou-se com o tecido do casaco de um homem que também esperava atendimento. Eu observava tudo de longe. Primeiro olhou para o casaco, depois passou a mão, como quem fizesse um carinho no braço do homem. Lógico que ele puxou assunto:
- Como é o teu nome?
- Helena. E o teu?
- Murilo.
- "Gurilo"?
- Não, "Gurilo" não, Murilo.
- "Gurilo"?
- Não, "Gurilo" não, Murilo. Mu, Mu, Murilo!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Beijo da manhã

Helena acorda pontualmente às 6 horas da manhã. Ontem de manhã, um baita frio e eu tentando fazer com que ela ficasse um pouquinho mais na cama:
- Ah, filha, está tão gostosa a nossa cama... Vamos ficar um pouquinho mais...
- Ah, não, mãe! Vamos descer!
- Estou sem forças pra descer. Preciso de um beijinho pra ter forças!
- Eu não posso te dar um beijo, eu já "di" tudo no Val ontem!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Histórias

Helena arrumou um amigo no restaurante onde almoçamos todos os dias. Um amigo que deve ter uns 50 anos a mais que ela. Quer sentar com ele, conversar...

Sábado sentou na mesa dele, com o seu prato de feijão e carne. Olhou-o fixamente e pediu:

- Conta a história de ti!

- Contar a minha história? Mas a minha história é muit grande! - e me olhou com uma cara de "socorro, como vou contar minha história pra ela?"

Olhei para uma outra mesa e tinha uma mulher dando risada daquela situação.

- Não precisa ser a história toda, conta alguma passagem, algum fato engraçado que aconteceu contigo.

Foi o que ele fez. E ela sentiu-se satisfeita.

Grandona, indo para a casa dos amigos...

Sábado, levei-a ao Brinca Mundi com um coleguinha da escola. Divertiram-se muito. Foi gostoso. A mãe do menino permitiu que ele fosse conosco. E fomos só os três. Ele foi bem tranquilo, fomos e voltamos conversando, cantando, brincando...
Na volta, Helena queria leva-lo para nossa casa.
- Não, filha, não podemos leva-lo para nossa casa, não combinei nada com a mãe dele.
- Mas eu quero.
Resolvi perguntar ao menino se ele queria ir para nossa casa, caso a resposta dele fosse afirmativa eu telefonaria para a mãe dele para combinar.
- Brian, queres ir para nossa casa ou para a tua casa?
- Eu quero a mamãe.
- Helena, ele quer ir pra casa, quer a mamãe dele.
Ela foi bem até chegarmos na casa dele. Depois fez um escândalo pedindo pra ficar. A mãe dele acabou convidando-a para ficar um pouco. Deixei que ela ficasse meia hora, não mais do que isso, pois o menino tem um irmão bebezinho.
Quando voltei para busca-la disse que brincou um montão e voltou para casa toda faceira. Quando me escuta contar a história para alguém e digo que deixei-a ficar um pouquinho, logo me corrige:
- Eu não fiquei um pouquinho, fiquei um montão!
Que bom que ela acha que ficou um montão!

Furada

No meio de uma brincadeira, ela levanta e corre para o banheiro:


- Peraí, mãe, tô furada!


- Não é furada, filha, é apurada!

domingo, 4 de julho de 2010

Aprendendo a assinar

Com dois anos e meio Helena aprendeu a desenhar a inicial do seu nome. Sempre que está com uma caneta nas mãos faz questão de deixar sua marca registrada. Faz um monte de rabiscos numa folha de papel, depois assina: H.

Esses dias peguei a danadinha marcando o sofá novo da avó. Uns rabiscos e um H bem grande no encosto. Chamei atenção:

- Helena! Não é pra escrever no sofá! Só no papel.

Ela ameaçou riscar mais.

- Se escrever eu tiro as canetinhas!

Ameaçou novamente. Guardei as canetinhas e avisei a avó que tinha um H no sofá.

Não era um. Eram 8! 7 estavam do outro lado e eu não tinha visto.

Exercício de lógica com letras e cores

Conversávamos enquanto montávamos um tapete de letrinhas que ela tem:

- "V" é de Vivi, né, mãe? De Vivi e de Vitória.

- De Vivi, de Vitória, de Val, de Vuvuzela.

- "V" é de Val também, mãe?

- É.

- O que é vuvuzela?

- É aquele negócio de assoprar que tu ganhaste para torcer para o Brasil.

- Ah!

Mais tarde, voltando da escola, ela aponta:

- Olha um carro preto, mãe.

- Isso mesmo, meu amor. Quem tem um carro preto?

- O dindo.

- Isso mesmo! E o nosso carro, que cor é?

- É azul.

- Não, o nosso carro é vermelho.

- O que é azul, mãe?

- Azul? É a cor daquela luz que tem lá em cima da Maçonaria - e apontei, estávamos bem em frente.

- E o que é rosa, mãe?

- Rosa é a cor do teu sapatinho de princesa.

- Não, mãe, mas que nome é rosa?

- Rosa é o nome da mãe do Davi.

- Não, mãe, que letra é rosa?

- Que letra? Rosa começa com a letra "R" de Rafa.

Helena chora.

- Que foi, filha?

- Não, mãe, a minha letra que é rosa!

- Ah! O teu "H" no tapete é rosa mesmo!

Cegonha

- Mãe, por que ela tem 3 filhos?

- Porque ela quis ter 3 filhos?

- Como?

- Ela quis um, engravidou, quis outro, engravidou de novo, quis outro engravidou mais uma vez.

- Onde é que ela vai para engravidar?

- Ela não vai, filha, ela namora. Tem uma sementinha dentro da barriga da mulher e outra sementinha no "pirú" do homem, aí quando eles querem engravidar o homem coloca a sementinha dele dentro da mulher, quando as duas sementinhas se encontram forma o nenezinho.