segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Acalanto



Abrigo
de gente
é barriga
de mãe.

- Bianca Velloso - 

Insônia



A cabeça borbulha
- e borboletea -
de ideias
- é inspiração -
Cadê o sono?
Não vem não?

- Bianca Velloso -

Liberdade que me encanta



Ele é lindo!
É lindo porque é livre!
Liberdade estampada
no vestir despojado...

Liberdade aninhada
em seus longos cabelos
de menino poeta
que não aceita gaiolas!

Liberdade desenhada
nas doces notas musicais
que sopra na canção...

Liberdade impressa
nas pegadas dos seus passos
- beira da praia, pés descalços...


- Bianca Velloso -

sábado, 29 de dezembro de 2012

Cinco Anos



Adélia Prado, reza assim, num poema: "Meu Deus, me dê cinco anos (...) me dá a mão, me cura de ser grande..."

Minha Helena está completando cinco anos neste 29/12. Nem sempre é fácil ser mãe. A filhota tem uma personalidade forte e é cheia das vontades. Às vezes até choro escondida, achando que não sou uma boa mãe... Noutras ocasiões quase me desespero pensando em como será quando ela chegar na adolescência... Pede limite o tempo inteiro!

Mas ela mesma me tranquiliza, quando de repente resolve deitar no sofá, ao meu lado e assistir a um filme como "Doce de Mãe", ou entra no carro pedindo "Mãe, coloca aquela música 'sou filha de Moçambique, sou negra, sim senhor'." E me enche de perguntas, quer saber tudo, entender o mundo... Perguntas que são brinquedos, fantasias, descobertas... Questiona com os olhinhos brilhando... E me encanta! 

Então percebo que no meio dos erros até que estou acertando! Que apesar (ou por causa) do meu jeito torto e fora do padrão, estou formando uma pessoa legal, cheia de curiosidade e vontade de aprender. Uma criaturinha que me desafia sim, me faz pensar, perder o sono, me tira da zona de conforto, que nem sempre pensará ou gostará das mesmas coisas que eu... Mas uma menina iluminada, questionadora, capaz de fazer a diferença no mundo em que habita!

Que Papai do Céu lhe conceda muita saúde e lhe conserve a doçura, o encantamento, o espanto, a curiosidade, a inquietação, a capacidade amar e lutar pela humanidade! Que eu consiga fazê-la entender que o valor da vida é a própria vida, aquilo que o dinheiro não compra! E que pelo menos por uma hora diária eu possa ser curada dessa doença de ser grande, olhar nos olhos dela de igual para igual e aprender a brincar! Tenho impressão de que podemos ser boas parceiras, filha e mãe, mãe e filha, amigas e irmãs!

- Bianca Velloso -


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O homem ideal



Quero um homem-menino
Que pode mesmo ser cheio de defeitos
Desde que eu possa conviver
E até mesmo brincar com eles - delicadamente

Um homem-menino
Que saiba usar reciprocidade
Melhor que seja artista
Para entender a minha arte

Que consiga sentir meus poemas...
Que tenha sensibilidade...
Poeta e músico, talvez...

Que não tenha ciúmes da minha palavra escrita,
Porque ela nada mais é do que sonho e fantasia...
Brincadeira de mulher-menina!

- Bianca Velloso -

Deméter



Tatuei o símbolo da fertilidade no pescoço 
 e não imaginava a sua força. 
Vivo em estado de gravidez
E gravidade...
Gestação que vive na órbita
existente entre coração e pensamento.
Filha gerada em meu ventre apenas uma: 
Helena. 
Não sei ainda se quero outros. 
Quem sabe, talvez... 
Vivo mesmo é grávida de sonhos, ideias e sentimentos... 
Que começam pequenos dentro do peito... 
Como Deméter, a deusa-mãe, 
vou acalentando-os... 
Eles crescem devagar... 
Até ficarem tão grandes
que precisam ser paridos... 
Nascem em forma de poema...

- Bianca Velloso - 

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Ainda sobre o Natal



Sei que sou esquisita mesmo...
E me dou bem com minha esquisitice,
gosto dela e ela também gosta de mim.
Acolhi o espírito natalino,
permitindo que ele entrasse devagarinho em minh'alma...
Não sem tristeza...
Natal é data triste...
De amor, de compaixão, mas triste...
Acolhi também a tristeza...
A mãe percebe minha introspecção...
Não gosto da comida que é servida nesta noite...
Acho exagerada, pesada...
 Tento participar das comemorações familiares...
Mas não me sinto à vontade...
Fico na minha, deslocada e triste...
Penso na formalidade da data...
Tenho o espírito libertário, avesso a essas coisas...
Gosto da simplicidade...
Escrevo o nome das pessoas especiais numa folha,
conecto-me ao universo,
faço minha oração energética,
com a folha bem perto do peito...
Penso nas pessoas que não têm motivos para comemorar...
Nas desigualdades...
Espero que a humanidade
faça o movimento de Perséfone
que vai ao mais fundo do inferno
e renasce trazendo a vida...
Que a partir desta data
as pessoas possam levantar-se do torpor,
da acomodação
e lutar umas pelas outras,
por um mundo mais humano!
Que seja o início do fim da perversidade!

- Bianca Velloso -

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Menino Deus



Numa tarde em que busco
Apenas acolher a solidão
Vem um menininho iluminado
E me traz inspiração!

- Bianca Velloso -

Feliz Natal



Hoje quero inventar meu próprio rito para festejar o Natal. 
Criar uma simbologia toda minha. 
Vivenciar esta data numa sala secreta do coração. 
Numa folha com a letra bem caprichada 
Escrevo o nome das pessoas queridas, 
de todas aquelas que me tocaram a alma até agora. 
Coloco dentro de uma caixa decorada. 
Acendo uma vela. 
Fecho os olhos e sinto o coração: 
 conexão direta com o universo. 
Recebo luz e cores, 
que transmito aos meus amores 
através do pensamento 
e da energia que viaja pelo espaço sideral.

- Bianca Velloso -
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim do mundo



Ontem um menino me contou que estava num abrigo subterrâneo, protegendo-se do fim do mundo. Só metáfora. Fugia de si mesmo.

Mas, o que aconteceria se o mundo realmente acabasse? Tentei criar este fim no meu espaço imaginário, o meu olhar de fim de mundo... Acredito muito no que Galeano conta:

“Um homem do povoado de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir alto no céu e na volta contou: disse que tinha contemplado, lá de cima, a vida humana. E disse que somos um mar de foguinhos. O mundo é isso, revelou: um monte de gente, um mar de foguinhos. Não existem dois fogos iguais. Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as outras. Existem fogos grandes e fogos pequenos, e fogos de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem fica sabendo do vento, e existe gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam. Mas outros, outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia.”

Sendo assim, se o mundo realmente acabasse seria com uma explosão silenciosa, ou talvez uma explosão musical, música clássica, Vivaldi! Ou quem sabe um samba de Noel? Música doce e suave. E nós, os foguinhos, iluminaríamos o espaço sideral com muitas e muitas cores. Sem dor, sem tristeza, sem mágoas. Só luz e cor: o amor!

- Bianca Velloso - 

Do passo ao voo



Quando foste embora
Primeiro eu chorei
Desesperei-me
Quase despenquei

Depois arrisquei passos
Num caminho estranho
Imbuída de uma racionalidade duvidosa

Até que apareceste
Novamente...
Que alegria!

Pensei que ficarias...
Que nada!
Foi só pra pisar
E maltratar...
Doeu! E muito!

Mas foi exatamente aí
Que descobri
Que posso voar
Que posso ser eu,
MULHER,
Independente, intensa
Densa, deusa, criança

Hoje sou
Aquela que dança
Sem nem saber dançar
Que ri, canta
E faz versos
E encanta

Loucura que liberta


- Bianca Velloso - 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Por onde anda o amor?



O Zeca Baleiro canta no rádio do carro:

"O amor viajou"

E eu me pergunto:

Onde anda o amor que ainda não encontrei?

Em que porto, em que terra, em que mar?

Será que perto, será que longe?

Do outro lado do Atlântico?

Vou para casa, tomo um banho

E, na cama, sonho com ele:

O cheiro, o beijo, a pele, o corpo, o sexo...

Sonho muito... Sonho vivo... Sonho em brasa...

Em seguida, mais um sonho:

O aconchego dos seus braços,

Deitar exausta e feliz no seu peito de homem!

E só depois de tanto sonhar e senti-lo em mim

É que finalmente adormeço...

Levo os dias esperando o momento

Em que ele aportará no meu corpo

Para tomar posse do que já é seu!


- Bianca Velloso -

Para além de Marx



Será que não percebeste? Quando ela brincava, fazia piada e gargalhava era para fugir do medo. O medo de encarar o desejo. Sentia medo do teu medo. O medo que pareces ter das mulheres independentes e bem resolvidas. Ela dirige o próprio carro, anda entre os homens e bebe cerveja no boteco da praça sem o menor cosntrangimento ou pudor. Parece ser forte... Será que é mesmo? Sentia medo ainda de não conseguir disfarçar o encanto quando teus olhos encontravam os dela... No fundo, tudo o que queria era perder-se em ti. Encontrar aconchego, calor e afeto nos teus braços... Incendiar-se de paixão... Voltar a Marx... E ir além... Até que do medo nasceram-lhe asas... E ela voou... Encontrou Marx... E foi além...

- Bianca Velloso -

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nudez


Acontece de repente
A sensação de estar nua
Muito mais liberdade do que vergonha...
Escrever é despir a alma:
Misturar Deméter com Afrodite...
Delicadeza incandescente!

Bianca Velloso

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Papai Noel Menino



As crianças questionadoras são um barato! Dou muitas gargalhadas com as indagações da minha filha! Tomara que ela nunca perca essa capacidade de perguntar, de inventar hipóteses, de questionar, de se espantar com a vida, de se embriagar de beleza - as alegres e as tristes - de fantasiar para além das fantasias impostas e padronizadas pelo consumismo. 

A origem das fantasias é terna, suave, tem cheiro de canela e gosto doce... O mundo perverso é que gosta de usurpar a imaginação, padronizá-la e usá-la como veículo para promoção do consumo desenfreado. O mundo perverso trabalha para alienar as pessoas, roubar-lhes a capacidade de criar as próprias fantasias. Ainda bem que as crianças nos salvam deste horror!

Enquanto estudava Milton Santos, Helena brincava ao meu lado. Estava concentrada na leitura, quando ela perguntou:

- Mãe, quando tu eras criança o Papai Noel ainda era bem mocinho, né?

Caí na gargalhada e enchi a criaturinha de beijos!

 - Bianca Velloso -

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O cara do livro

Imagem: Iman Maleki

Enquanto danço
Com meus versos livres
Ele desenha com precisão
Sonetos e elegias.
Enquanto ele anda preso 
Eu exercito a liberdade...

Doce ilusão
Pois na verdade
Meu sonho mais livre
É viver eternamente
Presa nos seus braços...

Livre dentro dos seus versos presos!

Bianca Velloso

domingo, 2 de dezembro de 2012

Uma história que emociona



Sou apaixonada por histórias. Sobretudo histórias de amor. Esta é a história da Tia Tata. Não sei se tenho competência para contá-la da maneira como merece, mas é bela demais para ser guardada só comigo. Que me perdoe se algum dado estiver um pouco diferente da realidade. Conto o que me ficou na memória do que escutei entre uns tantos goles de cerveja, no meio de uma algazarra de aniversário de criança.

Ela casou-se aos quarenta e sete anos, quando já estava decidida que a vida boa de ser vivida era a de solteira. Conheceram-se através de amigos comuns, durante um almoço. Ele era 8 anos mais novo. Em determinado ponto da conversa, olhou nos olhos muito azuis de nossa personagem e disse:

- Tu ainda serás minha mulher!

Ela achou graça. Estava realmente disposta a viver sozinha e ele nem era tão interessante assim.

Ele venceu. Por persistência! Ficou dois meses insistindo para que os amigos lhe passassem o telefone dela. Ela proibia. Até que ele não aguentou mais e foi à casa da sua musa. Resistência quebrada, acertou-lhe em cheio o coração. Começaram a namorar. Ela continuava firme no propósito de não casar. De tanto os amigos falarem que era medo do amor resolveu encarar o casamento.

Moravam em São Paulo. Ele jornalista, ela gerente fiscal. Ele trabalhava até altas horas da madrugada, no fechamento do jornal, depois ia beber e jogar dominó com os amigos. Ela saía muito cedo de casa, ele ficava dormindo, às vezes passava o dia trabalhando no Rio de Janeiro e ele só ficava sabendo depois. Durante a semana se falavam apenas por bilhetes, os horários não batiam.

Os colegas de trabalho apostaram que o casamento não duraria. Ninguém dava mais que seis meses para aquela união. A única pessoa que botou fé foi a mãe dele. Conhecia o filho e percebeu que a nora era uma mulher moderna, segura, independente, muito diferente das outras, exatamente do jeito que ele gostava.

O casamento durou quarenta anos, até o momento em que se esgotou o tempo dele aqui na Terra. Agora ela está reorganizando o cotidiano sem o homem da sua vida. Reconstrução difícil. A recompensa é esta história tão bonita que ninguém pode apagar!

- Bianca Velloso - 

Vivendo literatura

"Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu" - Chico Buarque em Sem Fantasia



Gosto do meu trabalho das manhãs de sábado. E gosto da viagem solitária de uma hora que enfrento para chegar ao local.

Ligo o som do carro: Oswaldo Montenegro cantando músicas do Chico. O pensamento voa. Um turbilhão de ideias e sensações, sonhos misturados... Penso no homem que resolveu alojar-se em meu coração... Os sonhos agora são todos com ele... 

Ele colocou-me dentro de um livro (é a maneira que sinto nossa história). Um livro ainda não escrito (será?). Estar dentro de um livro não é prisão. É liberdade. Expansão. Conhecê-lo me ajuda a libertar-me dos meus próprios dogmas e paradigmas - ao  mesmo tempo em que acolho os dele, sem tomá-los para mim, apenas para entender e sentir este homem em mim. É tão bom exercitar a liberdade ao seu lado...

Ai, ai! Deixa eu respirar, recompor-me e começar a trabalhar...

Ah, nego! Gosto tanto de ti! Que bom seria se existisses de verdade!

- Bianca Velloso -

sábado, 1 de dezembro de 2012

Meu amado Arnaldo Antunes - uma declaração de amor



Estive pensando no que me faz gostar tanto da música do Arnaldo Antunes... É esta capacidade de ser tão flexível, de não ficar preso a nenhum estilo, nenhum estigma. A capacidade de passear entre o romantismo e o erotismo, os sonhos e a realidade. Ora doce e delicado, ora escroto e contundente, sem perder a coerência nem a consistência. Ser ao mesmo tempo corpo e alma. Ser humano.

- Bianca Velloso -