sábado, 30 de junho de 2012

"Só a bailarina que não tem" - mais interpretação musical

Quando tinha dois anos e meio Helena me pediu para fazer aulas de balé. E desde então é baliarina. Hoje fomos ao teatro e na volta ela vinha no banco de trás do carro com a prima Marina, um ano mais velha. Eu conversava com elas e colocava músicas:

- Agora uma música de princesa! Música de E.T., música de chuva, música de lua, música de bichos, música de flor...

- Tem música de bailarina, tia?

Lógico que tem! "Ciranda da Bailarina", do Chico Buarque:

"Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem"

Helena então falou para a prima:
- Eu não tenho problema na família!

-É, mas a Vó Vivi tem! - respondeu Marina.

(A Vó Vivi é avó das duas, mãe do pai da Helena e da mãe da Marina, e está enfrentando um problema de saúde complicado.)

- Se ela fosse bailarina não teria! - concluiu Helena.



Sobre o que ser quando crescer

Helena organizou um piquenique na sala com frutas, sucos e biscoitos e nos chamou para participar. O Dindo puxou assunto:

- Helena, o que queres ser quando crescer?

- Eu ainda não sei!

- Ah, mas diz uma coisa que tu tens vontade de ser...

- Eu já disse que ainda não sei, Dindo!

- Eu sei o que queres ser: FELIZ! 

- Feliz não é trabalho, Dindo!

- Fala aí uma coisa que achas legal!

- EU AINDA NÃO SEI! Quando tiver dezessete anos eu decido, tá bom assim?

Caimos na gargalhada, eu e o Dindo. Ela ficou séria e pensativa, depois perguntou:

- E tu, mãe? Como é que tu decidiste? Quantos anos tu tinhas?

- Ih, filha, pra falar bem a verdade eu não decidi nada, as coisas foram acontecendo pra mim... Terminei o segundo grau e fui estudar para ser professora, aí o Vô me convidou para trabalhar na óptica com ele, eu fui, no início sem muita vontade, mas depois fui gostando, me interessei, comecei a estudar coisas de óptica, aí em seguida veio o curso de optometria, eu fiz, quando vi já era optometrista e hoje não consigo me imaginar fazendo outra coisa!

Minha filha está virando gente grande mesmo! Isso é papo para uma criança de 4 anos? Que coisa boa poder conversar assim com ela!

Desenho e escrita


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Conversando como gente grande

Como é gostoso conversar com uma criança! Ainda mais quando é a filha da gente (e principalmente quando acorda de bom humor)! Muito obrigada, Papai do Céu, por essa filha linda, maravilhosa e inteligente!

- Eu pareço gente grande, né mãe?

- É filha! Por que achas que pareces gente grande?

- Porque eu já sei escrever, arrumar a mesa, tomar banho, me vestir, colocar sucrilhos e iogurte no copo...

- É mesmo, meu amor, já sabes fazer um montão de coisas!

- Mãe, tomate é saudável?

- É filha!

- E abacaxi, morango e banana?

- Também, filha, todas as frutas são saudáveis, cada uma faz bem para alguma coisa no corpo da gente!

- Chocolate não é saudável, né mãe?

- Chocolate não é fruta, mas hoje algumas pesquisas dizem que até o chocolate faz bem! Mas não é qualquer chocolate, é o chocolate amargo, esse que a vó gosta e que tu gostas também! Não pode comer muito, mas se comer pouquinho faz bem para o coração!

- Por que chocolate faz bem pro coração, mãe?

- Parece que é por causa do cacau - o chocolate é feito com cacau.

- E brigadeiro, mãe?

- Não, brigadeiro não é saudável, mas se comer só de vez em quando não tem problema, não faz mal.

- A minha professora falou que o chocolate faz bem pro pé!

- Pro pé? Como assim?

- É, sabe aquelas manchinhas que vão aparecendo na pele quando a gente vai ficando velhinha? O brigadeiro ajuda a não ficar velhinha tão cedo, a gente demora mais para envelhecer! - Ela falou desse jeito mesmo, me deu explicação e usou a palavra "envelhecer", pode?

- Ah é? Vou perguntar para tua professora onde foi que ela leu isso!

- Ah... É que agora eu me lembrei, não foi ela que disse, eu é que li numa placa.

- Numa placa? Onde?

- Na rua!

- Só se foi no sonho, filha!

- Eu li mesmo, é verdade!

- Não estou dizendo que não leste, só estou dizendo que deve ter sido no sonho, que tu sonhaste com isso! Mas a gente não deve acreditar em TUDO o que lê, nem sempre o que a gente lê é verdade! É preciso pesquisar mais sobre o que se lê, ler em outros lugares, nunca num lugar só!

- É, foi no sonho! Sabe mãe, que às vezes quando eu vou dormir e fecho os olhos eu vejo um montão de coisas de olho fechado?

- Eu também, filha!



domingo, 17 de junho de 2012

"Pepeca", "vagina" ou "vulva"?

Essa foi da Rafa:

- Bia, né que a gente não pode chamar a "pepeca" das meninas de "pepeca"?

- Não pode? - Perguntei.

- Não!

- E como tem que chamar então?

- De vagina!

- Ah! Quem que te ensinou isso?

- A professora.

- Ah....

Fiquei sem saber o que responder. Não concordo com isso. Acho que as crianças devem sim aprender os nomes corretos das coisas, mas usar no cotidiano a palavra vagina é forçar a barra! Comentei com minha mãe, que é ginecologista e de pronto ela falou que é a parte interna do orgão sexual feminino, que externamente é denominado "vulva". Talvez eu devesse ter dito que na escola ela deveria usar o termo que a professora ensinou e em casa ela pode continuar a chamar de "pepeca". Mas ela me pegou de surpresa... Que sabe um dia tenhamos outra chance de tocar no assunto, eu, ela, o pai dela e a minha Helena que ouviu a conversa!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Rafaela e Helena


Descobertas inusitadas

Desde fevereiro tenho uma outra criaturinha que, junto com a Helena, acrescenta poesia à minha vida, a Rafaela. Na maioria das vezes essa poesia que as crianças vivem e nos presenteiam são cômicas, num estilo meio Mario Quintana, talvez...

Estávamos pois no sítio dos nossos amigos em São José do Cerrito, interior de Santa Catarina. Depois do almoço levei-as ao banheiro para que escovassem os dentes. Helena sentiu vontade de fazer cocô e se sentou no vaso sanitário. Rafaela ficou parada ao lado, segurando a tampa e observando, quieta. Até que descobriu com o encantamento típico das crianças que olham alguma coisa pela primeira vez:

- Helena! O teu cocô tá saindo!

Interpretação de Texto

Enquanto levava Helena para escola escutávamos a música "Arlequim de Bronze" na voz da Ná Ozzetti. Eu cantava junto e Helena no banco de trás prestava atenção:

"Ganhei no samba um arlequim de bronze, minha sandália quebrou o salto e eu perdi o meu mulato lá no asfalto".

- Mãe, o que é mulato? Ela perdeu o mulato na estrada? Será que foi nessa estrada aqui? Será que ele está procurando por ela? Onde será que ela mora?