quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sobre bebidas de aniversário

Nunca gostei de servir bebida alcóolica em aniversário de criança, mas o aniversário da Helena é no auge do verão, na semana entre Natal e Ano Novo, quando a maioria das pessoas está de folga, de férias... Este ano convidamos poucas pessoas, todas conhecidas, que gostam de cerveja e que sabemos que não vão passar da conta, dar vexame, enfim...

Durante os preparativos da festa, que começou um dia antes, deixei um pensamento escapar para a fala:

- Acho que este ano vou comprar umas cervejinhas para oferecer aos adultos no teu aniversário, filhota!

De pronto me respondeu muito séria:

- Não, não, acho melhor oferecer um vinho!

29/12/2011 - 4 anos

Hoje está fazendo quatro anos que olhei pela primeira vez nos olhos da pessoa mais importante da minha vida! Aquela que me ensina diariamente a ser mais doce, mais paciente e mais criativa, que resgata o meu olhar para as coisas simples e gostosas da vida. Aquela que testa comigo os seus limites todos os dias, como quem cultiva asas para um dia alçar voos pelo mundo, que talvez até resolva pousar em terras distantes. Aquela que terá o meu amor para sempre! Feliz Aniversário filhota! Que tua vida seja iluminada, que eu possa ser sempre o teu porto seguro, teu ponto de apoio! Te amo!

domingo, 13 de novembro de 2011

Trabalho Infantil

Ontem Helena quis ir para loja comigo. Ela adora brincar de fazer limpeza. Enquanto eu atendia, pegou pano e limpa-vidros e foi esfregar a vitrine - dá para imaginar a lambança que ela fez, né? Uma moça que passava por ali resolveu fazer graça com ela:

- Oi! Estás trabalhando hoje?

- Não! Eu sou criança! Criança não trabalha!

- Ah, tá... Estás só fazendo um free então...

- É!

Assim que o cliente saiu a moça entrou às gargalhadas para me contar!

Constatações...

Helena constatou:

- A mamãe tem a voz parecida com a da Tia Calaca! E a voz do Val se parece com a do Papai Noel e a do Coelho da Páscoa!

Sobre a vinda do Papai Noel

Estávamos montando a árvore de Natal quando o telefone tocou: era a Tia Calaca, falando lá do hemisfério norte. Helena atendeu:

- Oi Tia! Eu estou montando a árvore de Natal com a mamãe!

- Ah, que legal! O Papai Noel vai aí?

- Vem sim!

- E será que ele vem aqui na minha casa também?

- Tia Calaca! Aí na França é inverno! O Papai Noel só vem no verão!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Realidade e Imaginação

O Val tem duas filhas, Marina e Luiza. A Luiza mora em São Paulo e nós já conhecemos, hoje chega em Floripa com o namorado para passar o fim de semana conosco. A Marina morou um tempão nos Estados Unidos e chega por aqui no fim do ano.

- Helena, a Luiza e o Thiago estão chegando hoje!

- Oba! Eu vou brincar com eles! Eu adoro a Luiza! Eu gosto mais da Luiza do que da Marina!

- Ah, filha, isso deve ser porque a Luiza a gente já conhece, já brincou com ela... A Marina a gente só conhece pelo computador!

- É, né, mãe? A Luiza a gente conhece de verdade e a Marina só existe na nossa imaginação!

Sobre as coisas simples (ou Sobre o privilégio de morar em Florianópolis)

Apesar do trânsito cada vez mais caótico e dos engarrafamentos que nos fazem passar horas ao volante, morar em Florianópolis pode ser sim um privilégio. Basta que se tenha olhos sensíveis e atentos.

Passo todos os dias pela Lagoa da Conceição para chegar ao trabalho. De vez em quando paro no meio do caminho para admirar a beleza, principalmente quando estou voltando para casa, no fim da tarde. As imagens nos enchem os olhos e a alma. Uma vez fiz o trajeto de bicicleta, com a liberação das endorfinas que a atividade física proporciona, tudo fica ainda mais lindo! É uma pena que andar de bicicleta por aqui ainda seja muito arriscado (não existem ciclovias na Lagoa e a maioria dos motoristas não respeita os ciclistas - nem se dão conta de que uma bicicleta na rua é um carro a menos trancando o trânsito!).

Ontem de manhã, dirigindo a caminho do trabalho, vi uma cena emocionante: uma pata na Lagoa com seus patinhos todos nadando atrás. Helena estava comigo. Dei meia-volta e parei o carro:

- Olha lá, filha, que coisa linda! Estás vendo a mamãe pata com os patinhos?

- Estou! Que legal!

Ficamos uns minutinhos admirando o nado daquelas criaturinhas, depois seguimos nosso rumo. Alguns metros a frente, Helena pediu:

- Mãe, para o carro que eu quero te mostrar uma coisa!

Onde estávamos era impossível, parar, já estávamos quase entrando numa via mais movimentada:

- Ah, filhota, agora não dá mais para parar, o que queres me mostrar?

- Um passarinho ali andando na grama!

Não sei o quanto sou eu e o quanto é ela que me ensina! Obrigada, minha filha, por me fazer olhar cada vez mais para as coisas simples!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Festival de Teatro

Está acontecendo, aqui em Florianópolis, durante toda esta semana, o 18º Festival de Teatro Isnard Azevedo. Ontem fomos, nós duas, prestigiar o Espetáculo Circo do Só Eu. E foi tão lindo!

Alguém já viu gente grande que chora ao assistir um palhaço? Pois eu chorei! Helena adorou e eu chorei! Uma apresentação sensível, cheia de brincadeiras e palhaçadas! Mas o mais emocionante foi ver a comunidade participando, brincando, numa integração total, esquecendo os problemas, dando risada... Criança, adulto, gente moça e gente velha...

Hoje nós vamos de novo!

Saudade

Como é essa coisa de saudade que resolve de repente bater no coração da gente? Como explicar este sentimento tão bem designado em nossa língua pátria? Saudade... O que é isso? E como é possível sentir saudade de alguém com quem a gente nunca conviveu?

Mas é isso! Há poucos dias Helena me disse que estava com saudades da Marina, filha do Val, que morou nos Estados Unidos por bastante tempo, desde antes do meu namoro com o Val começar. Não nos conhecemos pessoalmente, nos falamos de vez em quando por internet ou telefone, mas o sentimento é esse mesmo que Helena definiu: SAUDADE.

Marina está voltando para o Brasil com o namorado numa aventura que começou na metade de 2011, de moto pelas américas e pode ser acompanhada pelo blog Sul Azul em três línguas: inglês, espanhol e português. A previsão é que cheguem por aqui para passar o ano novo conosco!

Volta logo, Marina! Estamos com saudades!

Barbie

Dia desses fui pela primeira vez até a locadora com a Helena e permiti que ela escolhesse um filme para assistirmos juntas. Escolheu "Barbie e o Segredo das Fadas".

Confesso que quando era criança eu gostava da Barbie e brincava bastante com esta boneca. Assim que comecei a entender um pouquinho como as coisas funcionam e como é complicado este consumismo exacerbado que o brinquedo incentiva, passei a detestá-la.

A sacanagem número um desta história é que incentivam o consumismo logo das crianças, que deveriam se preocupar só com o prazer que a brincadeira proporciona. 

O apelo publicitário voltado para as crianças está em tudo: roupas, sapatos, brinquedos e até óculos - que é o produto que me garante o pão de cada dia. Tudo tem um personagem de desenho animado, uma boneca, uma apresentadora de programa infantil...

A sacanagem número dois é que os dvds da Barbie estavam justamente na altura dos olhos da minha filha! Eu sei que não vou conseguir deixá-la imune a isso tudo: as amigas da escola têm Barbie, as primas também - um dia desses Helena chegou em casa cantando uma música da Kelly Key, "Barbie Girl". Não quero ser daquelas mães que proibem tudo, porque tenho consciência de que o proibido sempre é mais gostoso...

Com uma dor imensurável no peito levei o tal dvd para casa. Depois do jantar começamos a assistir: que coisa horrível! O filme é de uma futilidade inacreditável! Muito pior do que esses filmes americanos que passam na sessão da tarde, cuja história é sempre a mesma: a menina esquisitinha que conquista o menino mais desejadoda escola e vai ao baile com ele! Não aguentei nem dez minutos! Ainda bem que Helena também não gostou!

Começa com as bonecas escolhendo - entre milhares - sapatos, roupas e bolsas para um evento de moda/beleza. Depois a Barbie convida umas fadas do bem para almoçar numa rede de fast food famosa e elas combinam o tipo de roupa e sapato que usarão para tal almoço. Uma fada do mal se apaixona e rouba o namorado da Barbie.

Não consegui ir além disso. O filme estava me embrulhando o estômago. Conversei com minha filha, expliquei que aquele filme não era adequado para a idade dela, que o Cocoricó, a Dora, a Pink Dink Doo, o Charlie e Lola, etc. são legais porque nos ensinam a ajudar, cuidar dos animais, da natureza, dos amigos... Mas que aquele filme ali não ensinava nada. Ela logo pediu para trocar o dvd.

Na hora fiquei pensando se tinha agido certo ou não... Às vezes é bem difícil ser mãe! Mas no dia seguinte ela mesma falou que o filme era chato.

Telefonando

Helena está descobrindo o teclado do telefone e brinca de telefonar para as pessoas. Esses dias a brincadeira era no meu celular:

- Dá para ligar para o telefone aqui de casa, queres ver?

- Quero!

Fui ditando os números e ela teclando.

- Agora vai tocar o telefone lá na sala.

Assim que o telefone da sala tocou, Helena saiu correndo para atender:

- Alô?

- Oi, Helena! - respondi.

- Quem é?

- É a mamãe, filha.

Desligou o telefone na mesma hora e voltou para a copa, onde eu estava, exatamente o cômodo ao lado da sala:

- Que susto, mãe! Pensei que fosse a tia Calaca! A voz é igualzinha!

Arnaldo Antunes 3

Existem algumas músicas que quero muito deixar como "legado cultural" para minha pequena. Selecionei algumas e mostrei a ela: "O Ronco da Cuíca" do João Bosco (que já é "legado cultural" assimilado do gosto musical da minha mãe), "Relampiano" do Lenine, "Zé do Caroço" da Leci Brandão e "Nossa Casa" do Arnaldo Antunes.

Helena assistiu com atenção, mas lógico que se encantou com o Arnaldo Antunes. Eu não tinha dito a ela quem eram os cantores, estava apenas mostrando as músicas, numa lista de reprodução do youtube que criei:

- É o Arnaldo Antunes, mãe?

- É sim, filha!

- Ele está cantando com crianças?

- Está.

- Por que ele está cantando com crianças, mãe?

- Porque ele gosta de cantar com as crianças!

- Ah, mãe! Eu também quero cantar com o Arnaldo Antunes!

- Eu também!

Passeio na semana da criança

Semana da criança na escola. Estava programado um passeio até uma casa de festas com piscina de bolinhas, cama elástica, escorregador gigante e vários outros brinquedos no estilo. Helena acordou ansiosa:

- É hoje o passeio da minha escola! Estou tão animada! Meu coração está animado! Parece até que eu vou chorar de emoção!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pequena Repórter

Há pouco menos de um ano conheci o trabalho da jornalista Eliane Brum: um texto denso que emociona e sensibiliza. Ela olha para pessoas, situações e lugares que a maioria prefere evitar ou ignorar por medo de sair da zona de conforto.

Eliane direciona o olhar - e portanto a reportagem - para os detalhes da notícia, aquilo que está no cotidiano de uma maneira tão intrínseca, arraigada, que parece que sempre foi assim, que não precisa, nem merece ser esmiuçado. Ela esmiúça e mostra. Fala de vida, de gente, de paradigmas, de diferentes verdades. 

Talvez seja um "olhar curioso", "olhar inconformado", "olhar de espanto", "olhar de pergunta", "olhar sensível", "olhar estrangeiro". Tantas definições, nenhuma delas definitiva. O mesmo olhar das crianças, o olhar que transforma realidades, que não se contenta com o determinismo daquilo que se repete todos os dias.

Como Eliane, a pequena Helena carrega essa mania de se importar com aquilo que aos olhos dos outros parece simples. Ambas puxam intermnáveis perguntas de dentro da cabeça e com as respostas costuram histórias que para Eliane se transformam em reportagem e para Helena em brincadeira.

Os textos da Eliane podem ser lidos no site da revista época, ou, para quem preferirum contato mais íntimo, o melhor mesmo é ler os livros "O Olho da Rua" e "A vida que ninguém vê". As histórias, descobertas e concluões da pequena Helena só convivendo com ela para saber, aqui no blog tem um "tira gosto" de tudo isso.

Com este olhar de questionar o que ninguém questiona, Helena interessou-se pela história de um tradicional mercadinho dos arredores de casa. No carro, a caminho do mercado, perguntou:

- Mãe, por que o nome do mercado é Baiá?

- Porque o apelido do dono do mercado, que é o pai da Cris, é Baiá. E ele quis colocar o apelido dele como nome para que todos que o conhecem soubessem que o mercado é dele.

- E por que o apelido dele é Baiá, mãe?

- Não sei, filha, mas se a Cris estiver lá nós perguntamos.

- E como é o nome dele?

- Também não sei, só perguntando para a Cris.

Qual não foi a felicidade da pequena quando viu que a filha do Baiá estava no caixa do mercado:

- Mããããããe! Olha lá! A Cris está no caixa!

Compras no carrinho, hora da entrevista:

- Cris, a Helena quer te fazer umas perguntas.

- Ai, meu deus! - pergunta de criança assusta um pouco - Lá vem! Pergunta, Helena!

- Por que o nome do mercado é Baiá?

- Porque é o apelido do meu pai, que é o dono do mercado.

- E por que o apelido dele é Baiá?

- Porque quando ele nasceu, o irmão não sabia falar o nome dele, só conseguia chamar de Baiá. E aí a família inteira ficou chamando de Baiá, o apelido pegou e ficou para sempre!

- E como é o nome dele?

- É Antônio! O nome do Baiá é Antônio!

sábado, 3 de setembro de 2011

Oftalmologista

Helena conhece todas as letras desde que tinha um ano e meio. Sabe o nome e relaciona com palavras do cotidiano.

Esta semana a levei numa consulta oftalmológica de rotina. Não gostou muito. O colírio para dilatar a pupila é ardido, deu uma fotofobia horrorosa e a deixou sem conseguir focalizar as imagens próximas. Estava realmente muito incomodada com toda aquela função:

- Deu, mãe, vamos embora! Estou com fome! Não consigo enxergar!

Na hora de avaliar a acuidade visual, fui logo avisando à médica:
- Ela já conhece as letras, acredito que vai responder melhor com letras do que com desenhos!

A oftalmologista projetou as letras na parede, apontou um "C" e perguntou:

- Que letra é esta aqui?

Helena está careca de saber que é o "C" da tia Calaca, mas para deixar a mamãe morrendo de vergonha respondeu:

- Não sei!

Fiquei com "cara de tacho", mas não tive coragem de insistir. A médica mudou a projeção de letras para o que chamamos de "E-direcional", que consiste na letra "E" projetada em diferentes direções (para cima, para baixo, para direita e para a esquerda). Helena demorou um pouco para entender a lógica do "para onde a letra está virada", mas acabou respondendo ao teste.

Quando saimos do consultório, perguntei:

- Por que não falaste as letras pra médica, filha?

- Porque eu não estava com vontade! - respondeu.



Arnaldo Antunes 2

Depois de concordar em assistir à apresentação do Gira Coro na Universidade Federal de Santa Catarina, enfrentamos um engarrafamento básico para chegar ao nosso destino, o que fez com que Helena quisesse voltar para casa:

- Mãe, quero voltar para casa!

- Ah, filha, mas a gente tinha combinado!

- Mas eu quero ir pra casa brincar de escola!

- Ah, filha, vamos lá, vai ser legal!

- Mas eu gosto de ver coisa de criança e esse show não é de criança, é de adulto, eu quero ir pra casa!

- Ah, Helena! Sempre que tem coisa de criança eu tenho que ir contigo! E tu não podes ir comigo uma só vez! Poxa filha! Quando eu era criança ia com a minha mãe em shows de adulto e gostava! Tu vais gostar! Uma vez assisti à apresentação de um grupo chamado MPB4, outra vez do João Bosco...

- Mãe, eu quero ir pra casa!

- E tem mais, Helena! Lembra aquele dia que eu fui ao show do Arnaldo Antunes? Tu querias ir junto e não podia entrar criança! Hoje que é um show em que pode entrar criança tu não queres ir!

- É o show do Arnaldo Antunes, mãe?

- Não, meu amor, é de um grupo chamado Gira Coro, é muito legal também!

- Eu quero ir ao show do Arnaldo Antuuuuuuuuuuuunes! Eu quero o Arnaldo Antuuuuuuuunes! - choramingava sem parar.

Não respondi. Mudei de assunto e ela foi acalmando aos poucos. Adorou o show do Gira Coro! E não queria mais vir embora, mesmo depois que o show acabou. Queria ficar lá descobrindo a UFSC.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dez a zero para Helena

Helena não gosta de brincar sozinha. Insiste o tempo todo para que eu brinque junto. Adoro brincar com ela, mas, muitas vezes tenho os meus afazeres. Dia desses, numa dessas discussões, ela insistia:
- Mãe, vem brincar comigo!

- Brinca um pouco sozinha para eu lavar a louça!

- Ah não! Eu não gosto de brincar sozinha! Brinca comigo!

- Espera um pouco, deixa eu lavar a louça, depois eu brinco!

- Brinca agora!

Eu sou uma manteiga, e se ela insiste um pouquinho não resisto:

- Tudo bem, mas não é assim, não é neste tom de voz. Tem que pedir com carinho e por favor!

- Por favor, mãe, brinca comigo agora? Lava a louça depois que eu for para a escola...

Quando ela vai para a escola eu tenho que ir para a loja, mas tudo bem. Então ela me deu uma boneca e pegou mais duas:

- Tu tens uma filha e eu tenho duas, tá, mãe?

- Tá bom!

Colocou as bonecas das quais era mãe num canto da sala e veio conversar comigo:

- Oi, amiga!

- Oi! Ué, cadê as tuas filhas?

- Estão lá brincando...

- Ah é? Elas brincam sozinhas?

- Brincam, brincam!

- Que legal! A minha filha não brinca sozinha! Não tem jeito! Eu tenho que brincar com ela o tempo todo! - Helena só me olhava calada, séria - Me diz, amiga, o que eu faço para que a minha filha brinque sozinha também?

- Dá uma irmã pra ela!

Aguçando o paladar

Nossos cachorros ficam muito irritados quando chove. Estávamos a mais de uma semana abaixo de chuva aqui na Ilha de Santa Catarina. Os bichinhos estavam agitadíssimos. Helena e eu, para variar, brincávamos de escola na sala e comentávamos:

- O Cok e a Dike estão muito agitados, né, filha?

- Por quê, mãe?

- Deve ser porque eles não gostam de chuva, ficam irritados. Nem a gente aguenta mais a chuva, imagina eles ali no pátio, né?

- Tive uma ideia! Já sei como a gente pode fazer para que eles fiquem quietos, mãe!

- Como, filhota?

- Eu vou dar biscoito para eles!

- Boa ideia, meu amor!

Foi sozinha até a despensa, pegou o pacote de biscoito para cachorro que estava quase cheio e saiu para oferecer aos bichos. Aproveitei para ficar na sala organizando algumas coisas. Alguns minutos depois ela entra falando:

- Mãe, tem que comprar mais biscoito pra eles! Esse pacote acabou!

- Não acredito que tu deste todos os biscoitos para eles! Tá bom, amanhã a gente compra! - falei de costas, ainda terminando de juntar uns desenhos espalhados pela sala. Quando direcionei o olhar para minha filha não sabia se ria ou se dava bronca. Com o pacote na mão, tinha a boca, o rosto e a roupa repletos de farelo, como se ela tivesse virado a embalagem para comer o restinho:

- Helena! - com um tom de voz mais duro. - Tu comeste o biscoito dos cachorros?

- Só o farelinho...

Caimos na gargalhada - nós duas!

Sobre números e quantidade

Depois de descobrir as letras e estar quase entendendo a formação dos fonemas, Helena começa a desvendar os números e o que eles representam enquanto quantidade. Passa o dia inteiro contando:

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, trinta, trinta e um, trinta e dois... - assim mesmo, do dezenove pula para o trinta!

Estende os dedinhos e me pede para contar - dois na mão direita mais um na mão esquerda:

- Conta, mãe!

- Um, dois, três!

Três na mão direita mais três na mão esquerda:

- E agora, mãe?

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis!

Diariamente me pede para responder:

- Cinco anos ainda é criança, mãe?

- É, filha!

- E seis?

- Também!

- E dez?

- É criança ainda!

- E treze?

- Treze é adolescente!

- E quinze?

- Adolescente também!

- E dezoito?

- Com dezoito começa a ficar adulto...

- Onde eu vou estudar quando tiver dez anos?

- No ensino fundamental.

- E quando tiver quinze anos?

- No ensino médio.

- E quando tiver dezoito?

- Na universidade.

Hoje fomos assistir à apresentação do grupo Gira Coro na Universidade Federal de Santa Catarina. Não é muito fácil convencê-la a sair. Por ela fica o dia inteiro em casa brincando de escola (sempre a mesma brincadeira). É preciso prepará-la psicologicamente desde cedo. De manhã fiz o convite:

- Filha, vamos a um show hoje de noite?

- Vamos!

- Legal, então eu vou te buscar mais cedo na escola e nós vamos direto para o show.

- Tá bom! É música, mãe?

- É, filha, é música sim!

- Onde vai ser?

- Vai ser lá na universidade onde a Tata estuda.

- Mãe? - pensei que ela me faria uma pergunta relacionada ainda ao show.

- Fala, filhota!

- Quantos anos a Tata tem? Dezoito?

A Tata é minha querida amiga Marta Magda, que foi minha professora quando eu tinha dez anos de idade, portanto tem pelo menos uns quinze a mais do que eu.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Japão

Helena descobriu esses dias que quando aqui no Brasil é dia, lá no japão é noite e vice-versa. Agora a maioria das brincadeiras está incluindo o Japão. Por conta disso, o Val a presenteou com um quimono salpicado de letras japonesas.


De noite, na hora de dormir, sempre conversamos um pouquinho na cama. Ontem a conversa começou pelos cachorros:

- Mãe, por que nós não temos medo do "Coc" e da "Dike"?

- Porque eles são nossos cachorros, nós somos as donas deles!

- Na verdade eu sou a dona da "Dike" e a tia Calaca é dona do "Coc", né, mãe?

- É, filha!

- E a gente cuida do "Coc" porque a tia Calaca está morando lá na França, né, mãe?

- Uhum! - não queria esticar muito o assunto, já estava ficando tarde e queria que ela dormisse logo. Então me comunicou:

- Quando eu crescer vou morar lá no Japão. Aí tu podes cuidar da Dike pra mim, mãe?

Peras

Alguns dias atrás meu irmão, que é padrinho da Helena, esteve aqui em casa. Havíamos comprado peras e ele pediu:

- Posso levar uma perinha para casa?

Helena não deixou ninguém responder e foi logo avisando:

- Mas só uma, porque a minha mãe gosta de pera!

Arnaldo Antunes

Arnaldo Antunes é, entre todos, o meu cantor preferido. As letras que ele compõe são completamente compatíveis com o meu pensamento, minha ideologia, minhas viagens intelectuais e sentimentais... Por isso é lógico que faço de tudo para que a Helena também goste. E ela gosta, curte muito a música "Num dia". 

Semana passada ele fez um show aqui em Floripa. Tarde da noite, numa casa de shows localizada às margens da SC 401 (rodovia que dá acesso às praias do norte da ilha). Durante o dia escutamos alguns dos cds que tenho aqui em casa. Helena adorou, deu risada, dançou.

Na hora do show ela resmungou um pouco, pois queria ir junto:

- Não dá, filha, é só para adultos, mas eu vou pedir pra ele fazer um show para crianças.

- Mas eu quero ir junto, mãe!

- Não dá, Helê, mas eu digo para ele que mandaste um beijo, tá bom?

- Tá bom! E diz também que eu amo ele, tá, mãe?

- Pode deixar que eu digo!

Hoje, no meio da brincadeira, ela me contou que quando tiver um nenezinho vai batiza-lo de Arnaldo!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Os Caminhos da Cultura

Se formos pais atentos e dedicados, nossos filhos enriquecem nossa bagagem cultural. No último fim de semana fomos de ônibus para Curitiba, com o objetivo de participar do I Encontro da Família Velloso. Quando chegamos a rodoviária de nosso destino falei:

- Filha, vamos colocar o casaco porque aqui em Curitiba é mais frio do que em Florianópolis.

- Por quê, mãe?

- Porque Curitiba está no alto da serra e na serra sempre é mais frio.

- Por quê?

Pronto, fiquei sem resposta, os porques intermináveis que eu adoro responder tinham acabado de dar um nó na minha cabeça. Não houve jeito de conseguir lembrar das aulas de geografia da Professora Onélia.

- Ih, filha, isso eu não sei responder mesmo! Preciso pesquisar! Se a serra está mais perto do sol e, segundo a física, o ar frio desce e o ar quente sobe, não faz sentido mesmo que na serra seja mais frio, mas é.

Ela provavelmente não entendeu nada do meu raciocínio e se contentou com a promessa de pesquisa, mas a dúvida continuou martelando na minha cabeça. De tanto puxar pela memória lembrei que tinha algo a ver com o fato de o ar ser mais rarefeito quanto maior a altitude. Depois perguntei ao Val, mas a explicação dele não me convenceu muito.

Hoje pesquisei e aprendi: na serra o ar é mais rarefeito, no litoral é mais denso. O sol esquenta o solo que faz o calor subir, o ar mais denso consegue reter mais o calor. E foi uma delícia descobrir tudo isso, muito menos pelo valor da descoberta e muito mais pela sensação de ter me libertado da ideia de que filho nos aliena um pouco do contexto cultural. É verdade que hoje eu faço menos passeios culturais, na televisão a única coisa que consigo assistir é desenho animado e quando vou deitar que poderia pegar um livro para ler estou tão cansada que mal consigo passar da primeira página. Por outro lado, essa curiosidade infantil pode sim nos mostrar um caminho cultural bastante interessante e muito mais cheio de beleza e emoção.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Adepta do parto normal

- Mãe, como eu saí da tua barriga?

- A Maricélia e a Vó cortaram a minha barriga e te tiraram lá de dentro.

- Como que corta a barriga pra tirar o nenê?

- É com uma faquinha especial de médico que se chama bisturi.

- E dói pra cortar a barriga, mãe?

- Não, filha, não dói nada porque antes de cortar a gente toma uma injeção que se chama anestesia e que não deixa a gente sentir dor, aí a gente não consegue mexer as pernas também, é engraçado! Mas isso só dura um tempinho, os médicos tiram o nenê da barriga, depois costuram a barriga de novo e a anestesia vai passando, aí, devagarinho a gente volta a conseguir mexer as pernas e a barriga dói um pouquinho.

Depois desta conversa fomos almoçar e não falamos mais sobre o assunto. No dia seguinte saimos de carro para ir ao mercado, eu dirigindo e ela na cadeirinha atrás de mim, de repente ela fala:

- Mãe, eu nunca vou querer ter filho!

Eu já nem lembrava mais da história.

- Por quê, filha?

- Porque eu não quero que cortem a minha barriga!

- Linda, mas dá pra tirar o nenê pela "xexeca" também!

- Como, mãe?

- Quando chega a hora do nenê nascer a mamãe faz bastante força como se fosse fazer cocô, aí o nenê nasce!

- Eu quero ter pela "xexeca" então!

Sonho realizado

Foto de Val Portásio


No último fim de semana, num encontro da Família Velloso em Curitiba, Helena realizou o sonho de segurar um bebê no colo. Este bebê lindo que ela segurou é a Laura, filha do meu primo Paulo Amaro. Perguntei:

- Gostou de segurar a Laurinha no colo, filha?

- Gostei!

- Estás feliz?

- Estou!

- Vamos levá-la para nossa casa?

- Vaaamos!

- Tu me ajudas a cuidar dela?

- Ajudo!

- Ajuda até a trocar fralda?

- Ajudo!

- Mas, será que a mãe dela vai deixar?

Pensou um pouquinho e depois respondeu:

- Ah, mas é só um dia!

Noções de astronomia

Ao acordarmos, ainda na cama, ela me perguntou:

- Será que hoje está chovendo, mãe?

- Acho que não, filha.

- Acho que não também, não estou ouvindo barulho! A chuva faz barulho porque pinga! A chuva pinga, o sol não pinga, o sol só fica assim, ó (e ficou estática uns segundinhos), parado!

- Isso mesmo! E a lua?

- A lua anda, porque quando a gente anda de carro ela vai andando junto! E as estrelas estrelas fazem assim ó: (e abria e fechava as mãozinhas, movimentando os bracinhos pra frente).

Camisinha

No sábado dia 02/07 levei Helena pela primeira vez a um evento numa escola de samba, a Consulado, que é a escola da Vó Eunice. Era apresentação do trabalho realizado pelo Projeto Caeira 21, coordenado por Graça Carneiro e voltado para as crianças da comunidade que vivem no entorno da quadra da escola. Houve apresentação de boi-de-mamão, balé, mestre-sala, porta-bandeira e bateria mirim, num palco enfeitado com um painel estilo colcha de retalhos formado por telas pintadas pelas crianças nas aulas de arte do projeto.

Helena adorou, principalmente a apresentação de mestre-sala e porta-bandeira mirim. Parecia em casa, correu por toda a quadra, cantou, pulou... 

Lá pelas tantas, uma enfermeira da campanha de prevenção ao HIV começou a distribuir camisinha. Deu uma tira para minha irmã Carolina, outra para mim e minha mãe agradeceu e não pegou.

Lógico que Helena estava atenta àquela movimentação toda:

- O que é isso que a moça te deu, mãe?

- É camisinha, filha.

- Pra quê?

- Para colocar no "peru" dos meninos.

- E por que ela te deu?

- Pra eu dar pro Val.

- E a tia Calaca, pra quem vai dar?

- Pro Mohamed.

- E por que ela não deu pra Vó?

- Porque a Vó não tem namorado.

- Mas aí ela coloca na "xexeca" dela!

Lógico que depois ela pediu para abrir uma camisinha para ver como era! Abri e mostrei.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Constatações

Hoje estávamos extremamente bagunceiras pela manhã, demos muitas risadas, ela se escondia debaixo das cobertas e eu fazia de conta que não encontrava, que pensava que tinha um bicho na minha cama, depois enchi de beijos, fiz cocégas, ela pedia para que eu a beijasse no pescocinho e ria muito; depois brincamos de escola, tiramos todas as bonecas da estante, fomos comprar o presente da bisa e filnalmente: banho.

No banho mais brincadeira. Enquanto nos enxugávamos, ela brincou comigo dizendo:
- Eu vou pegar o teu bumbum!

- Buááááááááá, não pega o meu bumbum, eu não quero ficar sem bumbum!

- Eu vou pegar!

- Buááááááá, nãããããããããão!

- Peguei o teu bumbum! - Disse dando uma beliscada leve.

- Buááááááááááááá, eu quero o meu bumbum! E agora, como vai ser, como eu vou sair por aí sem bumbum?

- Vai fazer cocô pela xexeca! Vai fazer cocô pela xexeca! - Por essa eu não esperava! Caí na gargalhada! 

Primeira leitura

Eu não gosto da Xuxa e me nego a comprar dvds da Xuxa para Helena. Mas ela ganhou um dvd que o tio pirateou e escreveu a caneta em cima: XUXA. O tal fica até meio escondido aqui em casa, em cima do aparelho, para ser usado somente em casos de extrema reina. Eis que o Val foi arrumar alguma coisa no aparelho e deixa o maldito cair no chão. Helena correu para pegar.

- É o meu dvd da Xuxa, mãe?

- Não sei, filha, o que está escrito aí? - perguntei fazendo de conta que não tinha visto, que nem sabia do que se tratava.

- Tá escrito: "Xis", "U", "Xis", "A": XUXA!

- Então é, né?

Na sala de espera do consultório

- Mãe, o que essa revista da GOL está fazendo aqui?

- Alguém que foi viajar de GOL, trouxe a revista e deixou aí.

- Pra quê?

- Para quem quiser ler enquanto espera para ser atendido.

Pegou a revista e começou a inventar histórias. Falava alto, em cada página uma história diferente, a cabecinha a mil. De repente a revista escorregou daquelas mãozinhas delicadas e caiu fechada no chão. Juntou a revista pacientemente e pediu:

- Mãe, me ajuda a achar a página que eu estava lendo?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sobre sexualidade

- Mãe, quando eu crescer eu também vou ter um namorado?

- Vai, meu amor!

- Quem que vai ser?

- Quem tu quiseres, filha!

- Eu quero que seja o Brian!

- Tá bom!

- Mãe, e se um menino quiser namorar outro menino?

- Pode acontecer também, filha, alguns meninos gostam de namorar meninos e algumas meninas gostam de namorar meninas!

- Eu acho que o Brian vai gostar de namorar menina, né mãe?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sobre namorados

Ao chegarmos na escola da Helena encontramos a mãe do Pietro:

- Oi, tudo bem?

- Tudo! Ontem perguntei para o Pietro: "E aí, Pi, como estão as gatas da escola?" e ele me disse: "Não tem gatas, mãe, só tem uma gata, a Helena, que é minha namorada!".

Rimos e depois que ela foi embora alertei minha pequena:

- Filha, quando o Pietro falar que é teu namorado, tu falas pra ele que é namorado de brincadeira, porque criança não namora, tá?

- Não, mãe, o meu namorado de brincadeira é o Brian. E quando eu crescer, ele vai ser meu namorado de verdade, quando eu for adulta e o Brian for adulto!

Seu Júlio e a Genética

Seu Júlio é o senhor que faz a manutenção da nossa casa, sempre que a casa precisa de algum reparo é a ele que recorremos. Ontem ele veio consertar um vazamento aqui em casa e encontrou esta fotografia em cima da mesa. Olhou para Helena e disse:

- Encontrei uma foto tua aqui!

- Não é foto minha!

- Como que não, não és tu aqui?

- Não, é a minha mãe!

Inconformado, Seu Júlio me chamou:

- Ela está dizendo que não é ela nesta foto!

- E não é mesmo, sou eu quando era pequena!

- Nossa, impressionante a genética, hein?

Acho que o Seu Júlio está precisando fazer óculos novos!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Declaração de amor

Segunda-feira eu recebi a mais linda declaração de amor da minha vida. Helena estava indo para a escola e me disse:

- Mãe, quando eu estou lá na escola eu fico pensando em ti!

- Linda, eu também, estou pensando em ti sempre! Quando estou lá na loja, estou pensando em ti!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Gnocchi





Eu e o Val compramos para Helena um avental da Mafalda. Entreguei o presente a ela:

- É pra quê, mãe?

- Para cozinhar, meu amor! No fim de semana nós vamos fazer gnocchi e queremos a tua ajuda, aí colocas o teu avental novo!

- Posso colocar agora para experimentar?

- Pode, meu amor, vem cá que eu te ajudo.

Vestiu o avental e foi para o espelho. Voltou pedindo:

- Mãe, pega as minhas panelinhas que eu vou cozinhar pra ti.

Enquanto tirava as panelas da estante perguntei:

- E o que tu vais cozinhar para mim, meu amor?

- Agrião e Pinocchio!

Ainda sobre a morte

- Mãe? E se o avião bater nas pessoas que estão lá no céu?

- O avião não bate nas pessoas que estão lá no céu, meu amor!

- Por quê?

- Porque as pessoas que estão no céu estão muito mais no alto do que o avião passa, o avião não alcança onde as pessoas estão.

- E se ele alcançar, mãe?

- Mas ele não alcança, filha.

- E se o avião crescer muito e alcançar, mãe?

- Ah, filha, aí eu não sei...

- Mãe, onde é que as pessoas que estão lá no céu dormem quando o céu está cheio de estrelinhas?

- Não sei, filha, acho que é numa nuvem.

- Mas quando está cheio de estrelinhas no céu não tem nuvem, mãe!

- É, não sei, filha, eu nunca fui lá no céu!

Sobre a morte

- Mãe, cadê a minha pasta de dente?

- Está no nosso banheiro.

- Quando tu morreres o banheiro vai ser só meu, né mãe?

- Vai, filha, mas eu não quero morrer não! Tomara que ainda demore bastante tempo para eu morrer!

- Por que, mãe?

- Porque morrer é muito ruim!

- Por que, mãe?

- Ah, se eu morresse tu ficarias triste, não ficarias?

- Não!

- Mas se eu morrer não vais ter mais colinho de mãe, nem teta...

Ficou quietinha um pouco, pensativa, depois falou:

- Mãe, eu quando tu morreres eu quero morrer junto contigo!

Comentando o noticiário

Noticiário da manhã, o reporter anuncia:

- Uma casa neste condomínio chega a custar cinco milhões de reais.

Helena estava deitada no meu colo. Só percebi que ela estava prestando atenção quando comentou:

- Cinco milhões de reais! Que caro, né mãe?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sobre a alegria

Depois de alguns dias resfriada, rejeitando todos os alimentos que lhe eram oferecidos, Helena acorda pedindo:

- Mama, me faz uma dedê (mamadeira)?

Só quem tem filhos sabe a alegria que a gente sente quando, depois de dias comendo como um passarinho, a criança volta a ter apetite:

- Faço, filha, lógico!

- O que é lógico, mãe?

Melhor ainda quando o apetite volta com essa deliciosa curiosidade infantil. Enchi minha pequena de beijos!

- Quando a gente diz, é lógico, quer dizer: é claro que sim!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sobre música e comida


O Val fez esta foto e colocou no Facebook. Chamei a filhota e perguntei:

- Quem é?

- A Mama! Onde tu estavas, Mama?

- Estava assistindo a mãe da Sophia cantar!

- E a Débora estava onde?

- Estava cantando!

- E o que tu estavas fazendo, Mama?

- Estava comendo.

- Comendo o quê?

- Bolinho de bacalhau.

Ficou pensativa por uns segundos e depois me pediu:

- Um dia tu me levas para ver a mãe da Sophia cantar? Eu quero experimentar bolinho de bacalhau também!

Adulta

Reinando de sono, olhou-me choramingando:

- Eu não sou mais tua filha! Eu sou adulta agora!

- Ah é, dona adulta? Que bom! Então hoje eu não preciso dar teta pra ninguém!

Mudou de ideia rapidinho e no mesmo instante voltou a ser criança!

Sobre fotos, histórias e letras

Em Guarulhos, na casa do Val, antes de dormir, Helena selecionou um livro na estante e me pediu:

- Vamos ler, mãe?

Era a biografia do Tim Maia. Como ler este livro para ela? Abri nas fotos e comecei a falar sobre as imagens.

- Mãe, eu não quero ver fotos, eu quero ver letras!

Então tá!

Descansa coração e bate em paz!

Estávamos no carro, voltando para casa ao som da Fernanda Takai:

http://www.youtube.com/watch?v=TAhv4f3EHWg&feature=player_embedded

Helena estava sentada na sua cadeirinha, no banco de trás, quieta, e eu dirigindo.

Ao final da música, ela exclamou:

- Eu não bato no meu pai!

Minha Pequena Turca!

As brincadeiras da Helena estão cada vez mais complexas. Ontem montou uma loja e nos chamou para comprar pratos e copos de plástico.

Primeiro me vendeu um prato roxo e para a avó um cor-de-rosa. Um real cada.

Depois vendeu o copo verde para a avó e queria me vender o branco. Reclamei:

- Ah, mas eu vim nesta loja para comprar um copo verde!

- Mas agora só tem branco! - respondeu.

- Então me faz um desconto no branco que eu levo! Pode ser cinquenta centavos?

- Pode!

Comprei o copo branco por cinquenta centavos. A loja dela ainda vendia pratinhos de sobremesa. Perguntei:

- Quanto é este pratinho, moça?

- Dois "centávulos"!

No banho

Helena adora brincar no banho. Dia desses, mais de meia hora dentro da banheira, chamei:

- Pronto, filha, vamos sair do banho?

- Agora não posso, mãe, estou "acupada"!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Lição sobre os hábitos alimentares dos mosquitos

Numa manhã ensolarada no sul da Ilha de Santa Catarina, Val coçou a perna e Helena, que presta atenção em cada pequeno movimento ao seu redor, perguntou:

- O que foi, Val?

- Acho que um mosquito me picou.

Ela virou para o fogãozinho, mexendo em suas panelas, como se estivesse cozinhando e disse:

- Ah! Que coisa! Tu não sabes que mosquito só morde de noite, Val?

Escatológica

Helena fez cocô, depois olhou para os três pedaços no vaso e apontou:

- A mamãe, o papai e o filhinho.

Sobre a alfabetização

Helena acordou cedo e já havia tomado a mamadeira matinal. Sentei com o Val para tomar café. Em cima da mesa estava o Livro dos Abraços, do Eduardo Galeano que usei há poucos dias para compartilhar alguns textos com uma das minhas amigas mais queridas. Enquanto tomava café abri o livro numa página qualquer. Era a página da "Crônica da Cidade de Montevideu":

Julio César Puppo, conhecido como Lenhador, e Alfredo Gravina se encontraram ao anoitecer, num café do bairro de Villa Dolores. Assim, por acaso, descobriram que eram vizinhos:

- Tão pertinho, e sem saber.

Ofereceram-se uma bebida, e outra.

- Você está muito bem.

- Qual o quê…

E passaram umas poucas horas e muitos copos falando do tempo enlouquecido e de como a vida andava custando os olhos da cara, dos amigos perdidos e dos lugares que já não são, memórias dos anos moços:

- Você se lembra?

- E se lembro…

Quando finalmente o café fechou, Gravina acompanhou o Lenhador até a porta de sua casa. Mas depois o Lenhador quis retribuir:

- Te acompanho.

- Ora, não se incomode.

- Mas é um prazer…

E nesse vai-e-vem passaram a noite inteira. Às vezes paravam por causa de alguma recordação súbita ou porque a estabilidade deixava muito a desejar, mas em seguida continuavam na ida e volta de esquina a esquina, na casa de um à casa de outro, de uma porta à outra, como que trazidos e levados por um pêndulo invisível, acarinhando-se sem dizer nada e abraçando-se sem se tocar.




Adorei e quis compartilhar com ele. Li em voz alta. Helena, que brincava ali perto, parou na porta e ficou nos olhando:


- O Val não sabe ler, mãe?

O sutiã

Helena ajudava a avó a estender a roupa no varal. Ela tirava as roupas do balde e entregava para a avó que as pendurava. Quando pegou um sutiã meu parou de ajudar. Segurou a peça com carinho, levou até a boca e deu muitos beijinhos.

- O que é isso, Helena? - perguntou a avó.

- É o sutiã da minha mãe!

- E por que estás beijando?

- É porque ele é que guarda a tetinha da minha mãe!

Vó Gostosa

Acariciando e apertando a avó como gosta de fazer todos os dias, Helena chegou à conclusão:

- Vó, como tu és gostosa, tu és toda molinha!

Aprendendo a fazer crítica de filmes

Helena estava tomando mamadeira quando lembrou de uma cena do dvd do Barney, o dinossauro roxo:

- Vó, a Baby Bop é "expressionante"! Ela dá um espirro e saem voando todos os "papeus".

terça-feira, 1 de março de 2011

Guardem este nome

Poucos programas são melhores do que um chopp numa noite quente de sexta-feira.  Semana passada Helê nos acompanhou pela primeira vez, não no chopp, lógico, mas ao barzinho. Levou uma boneca e muita imaginação. Imaginou florestas mágicas e casas encantadas. Lá pelas tantas chegou um músico, ela  parou tudo para prestar atenção em cada detalhe da montagem dos equipamentos:

- Mãe e Val, vai ter música! O moço trouxe um violão, ele vai cantar!

- Ah, é? Que legal!

- Quando crescer eu também vou cantar e tocar meus instrumentos! E o meu nome vai ser "Paulinha Sá"!

O Val me olhou e caimos na gargalhada! Não sabemos de onde ela tirou este nome, de repente, assim sem pensar: "Paulinha Sá". No que isso vai dar não sabemos, talvez até façamos ideia, do jeito que é dramática pode nascer daí uma nova Maria Bethania. De uma coisa temos certeza: se um dia Paulinha Sá brilhar por aí ,esta história será contada em primeira mão pelo Val, em entrevista exclusiva.

Quando o músico começou o trabalho ela foi chamar a avó:

- Vó, vamos dançar?

Outra gargalhada geral.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Calcinhas e cuecas

Algumas das roupas que não servem mais na Helena acabam passando para as bonecas, as calcinhas principalmente, pois essas não acho legal passar para outra criança. No meio de uma brincadeira com a avó ela se dá conta:

- Não tem cueca para os meus bonecos meninos!

Resultado: passei no 1,99 e comprei quatro cuequinhas para que ela pudesse vestir os meninos!

Mudança de Horário

Ontem mudou o horário, entramos novamente no horário de inverno. Hoje, 11h e 30min, Helena pergunta:

- Mãe, por que está demorando tanto para ser a hora do almoço?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Primeira mudança de turma na escola

Helena está ansiosa com a troca de professora. Ficou dois anos no "G. Baby" e segunda-feira começa a frequentar o "G 1", está grande. Passou a semana toda com saudade da professora antiga. Ontem fomos até a escola para conhecer a nova sala e a nova professora. Greice, a professora antiga, também estava lá.

- Vai lá, Helê, vai dar um beijo na Greice!

Ficou num estado eufórico, misto de ansiedade, alegria e vergonha. Não beijou, se escondeu entre minha saia. De noite custou a dormir, deitamos na cama e ela não parava de conversar, eu dizia para fecharmos os olhos e ela pedia para continuarmos conversando. Por um momento ficou quietinha e depois falou:

- Mãe, acabou o beijo da Greice agora. Não tem mais beijo pra ela.

- Ah é? E o meu beijo?

- O teu não acabou, pra ti tem um monte.

Perguntei sobre os beijos da Vó, do Val, do Dindo, da Tia Thais, da Tia Calaca, da Tia Luana, da Marina, da Luiza, do Papai, das primas... Para todos ainda tinha um monte. Que construção interessante que ela fez para fechar um ciclo da vida...

Sobre a morte

Meu tio mais próximo e mais querido faleceu recentemente. Helena acompanhou a história toda e, como sempre, perguntava o tempo todo:

- Cadê a Vó?

- A Vó está cuidando do irmão dela, que está dodói no hospital.

- Por que ele está no hospital?

- Porque ele estava se achando gordo, queria emagrecer, não se alimentava direito, passava o dia todo tomando coca-cola zero e comendo pouquinho, ficou fraquinho, pegou uma gripe muito forte e está no hospital, os médicos estão cuidando dele, a Vó também...

Ele foi internado no dia 26/12 e faleceu no dia 03/01. Não escondi nada dela, contei que o Tio morreu, ela repetiu os porques todos durante uma semana, até que parou de perguntar.

Um dia, brincando de pediatra, ela era a médica e nós, eu, o Val e a Vó Eunice, levávamos nossos filhos bonecos para consultar. Val chegou com o filho, o Mohamed, na pediatra:

- Médica, meu filho está doente, está muito magrinho, não quer comer nada, o que eu faço com ele?

- Ah, deixa morrer! - respondeu.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Esquecimento

O Val está nos Estados Unidos com suas filhotas. Ligou e foi Helena quem atendeu:

- Alô, é quem?

- Oi Helê, é o Val! Que saudade!

Falaram mais alguma coisa e ela me passou o telefone. Horas depois, no meio de uma brincadeira, perguntei:

- Falaste com o Val filha?

- Falei!

- Ele disse que estava com saudades de ti?

- Não, ele esqueceu!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Carne Crua

Helena adora comer carne crua. Eu vivo brigando, dizendo que ela pode ficar doente, que dá dor de barriga, mas ela sempre me enrola e rouba uns pedacinhos.

Ontem, quando preparávamos o jantar tive que chamar a atenção mais uma vez:

- Helena! Eu já te falei que não é para comer carne crua!

- Ah, mãe!

- Só este pedacinho então! E chega, estou colocando a carne na frigideira!

- Então eu não vou engolir, pra não acabar! - E ficou enrolando com aquele pedaço de carne crua na boca um tempão, quando engoliu fez a maior choradeira!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Bebezinho Muçulmano

Desde que nasceu Helena tem um boneco negro que até então não tinha nome, era chamado por ela e por todos nós de "Bebezinho". Há poucos dias ela resolveu batiza-lo com o nome do namorado libanês da tia que está fazendo doutorado na França:

- Mohamed! O Bebezinho agora vai se chamar Mohamed!

Passou o dia abraçada no boneco, dizendo que era filho dela. Levou o Mohamed até para o restaurante. E não deixava ninguém pega-lo. A mãe de uma menininha que também almoçava lá puxou assunto com ela:

- Como é o nome do teu bebezinho?

- Mohamed - disse agarrada ao boneco, apertando com muita força, com medo que a mulher pedisse para segura-lo.

- Como?

- Mohamed - repetiu.

- Nossa, que nome mais complexo - disse a mulher admirada.

Bisnaguinhas

Ao tira-la da piscina perguntei:

- O que queres lanchar, meu amor, pode ser bisnaguinha?

- Pode.

- Quantas tu queres? Uma ou duas?

- Quero quarenta!

Ri, não dei bola e preparei duas bisnaguinhas com mumu (doce de leite). Entreguei uma em cada mãozinha dela. Pegou as bisnaguinhas, me encarou séria e disse:

- Ô Mãe, eu disse que eu quero quarenta!

- Tá bom, filha, come essas duas aí que depois eu te dou as outras trinta e oito!

Lógico que comeu as duas e ficou satisfeita.

Maria-Mole

Passamos numa padaria e o guloso do meu Namorado não resistiu a uma maria-mole, mandou embrulhar e levou pra casa. Antes de comer ofereceu para Helena provar. Ela tinha acabado de sair do banheiro correndo onde tinha feito sabe-se lá o que, não deu nem tempo de eu falar para voltar e lavar as mãos. Diante da oferta arregalou aqueles olhos grandes, deu uma bela apalpada na maria-mole, sentiu a consistência molenga e disse:

-Não quero!

O Val olhou com cara de nojo para o doce, titubeou por alguns segundos, pensando: e agora, como ou não como? Comeu!

Caimos na gargalhada. Depois explicamos a ela que sempre se deve lavar as mãos ao sair do banheiro.



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os Planos da Helê

Quando crescer vai:

- Morar sozinha

- Ter um carro cor-de-rosa

- Casar com o Brian e com o Pietro de vestido cor-de-rosa.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

As Botas do Papai Noel

Para alegrar a pequena e alimentar sua fantasia na noite de Natal, o Val se vestiu de papai noel e entregou os presentes. A roupa era improvisada, a barba ficava caindo e as botas não eram de verdade, eram apenas pedaços de couro sintético preto que cobriam os sapatos.

Meio desajeitado, nosso papai noel deixou aparecer uma pontinha do tênis All Star branco. Helena espichou os olhinhos em direção aos pés do homem de vermelho. Pensamos que ela tinha percebido que era o tênis do Val, ou que pensasse que a bota do papai noel não era de verdade... Ela nos surpreendeu alguns dias após o Natal quando pediu para calçar meias brancas:

- Mãe, eu quero colocar meias brancas, igual ao papai noel. Ele usa meias brancas, sabia mãe? As meias dele não são vermelhas, são brancas!

- Ah é, filha? Como é que tu sabes?

- Eu vi!

- Sério? Onde foi que tu viste as meias do papai noel? Aqui em casa?

- Aham, aqui em casa.

- Como foi que tu viste e eu nem percebi?

- É que eu estava sentada bem do ladinho dele.

Mestre cuca

Brincando de fazer comidinhas, oferece:

- Vó, queres comer? Eu fiz tomate seco e tomate molhado!

Música de Natal

Helena cantando:

Jingle bell, jingle bell é papai noel, já nasceu deus me livre para o nosso bem...