sábado, 19 de setembro de 2015

cena

Fotografia: Vê Almeida


casinha simples, de madeira, um único cômodo. limpo, arejado, organizado, iluminado de sol e ternura. duas portas e duas janelas. sobre a cama uma colcha branca, de crochê. no centro da mesa um vaso com flores azuis. o fogão à lenha delicadamente pintado com motivos afros. no cantinho uma prateleira para as poucas louças e os alimentos. uma geladeira antiga. um pequeno guarda-roupas, madeira bruta. ele vive sozinho naquele espaço. 

o pão de cada dia, ganha fazendo tranças nos cabelos das pessoas. ali mesmo, em casa, na própria cama. tem uma técnica toda diferente. cada trança tem por dentro um fio de silicone, cuja ponta é bifurcada com o auxílio de uma faca para arrematar o trabalho. depois ele assopra com força o cabelo trançado. e é isso o que faz toda a diferença.

quando o conheci ele trançava os cabelos de uma morena linda. sentei perto deles, ouvi e contei histórias. fiquei encantada com a maneira como ela balançou os cabelos após o assopro. respirei fundo, ela me deu a mão e saímos as duas pela rua lajotada. enquanto caminhávamos me contou que ele é Oxalá e que ao fazer tranças cuida da cabeça da gente.

(Bianca Velloso)

Nenhum comentário:

Postar um comentário